Existe uma vontade muito clara em Alerta Vermelho de se destacar como uma aventura de ação, daquelas que acena para títulos como Missão: Impossível, Indiana Jones e até seus derivados, como A Lenda do Tesouro Perdido. Mas ele apenas acena. Lá de longe. Apesar de um elenco bombástico - o trio de protagonistas formado por Dwayne Johnson, Gal Gadot e Ryan Reynolds - e a maior grana que a Netflix já gastou em um filme, Alerta Vermelho é um grande desperdício de potencial. A concentração de investimento nas estrelas parece ter feito o streaming descuidar de todo o resto, incluindo a direção e principalmente o roteiro.
Comecemos do começo, quando Alerta Vermelho apresenta seu objeto de desejo em um documentário televisivo. Didaticamente, aprendemos que existem três ovos de Cleópatra espalhados pelo mundo, tesouros buscados pelos maiores ladrões do globo. Somos então introduzidos a Hartley (Johnson), um agente do FBI que encontra um desses foragidos, Nolan Booth (Reynolds), já com um dos ovos em mãos. Não demora para que os dois se tornem aliados improváveis na busca pelo Bispo (Gadot), a maior ladra do mundo, e o trio comece a trocar as faíscas esperadas pelo público. A coerência, ou justificativa pela qual o agente do FBI rapidamente troca a lei pelo ladrão, é rapidamente jogada para o banco de trás, até que o filme resolva suas questões com reviravoltas nada surpreendentes.
Na jornada de Hartley e Booth, passeamos por diferentes países, apresentados, claro, com aquela tradicional fonte gigante para cada cidade retratada. Mas o filme da Netflix não se interessa muito pelas locações pelas quais caminha, exceto para entregar piadas absurdas, como jogar Johnson em uma arena de tourada, já que estamos na Espanha. Funcionaria, se o humor estivesse em harmonia com o clima geral, mas não há muito em Alerta Vermelho que não se leve a sério. O filme não é autoconsciente o suficiente para carregar piadas com o gênero como se fosse uma sátira.
Como bem representa o cartaz do filme, Johnson, Reynolds e Gadot são o único foco de Alerta Vermelho, e eles acertadamente baseiam suas performances em carisma. Mas o humor descompassado do filme é capaz de frustrar até os comentários irônicos já tão familiares de Reynolds. Aqui, o tradicional tagarelismo do ator de Deadpool - presente e eficiente em quase todas as produções em que estrela - rapidamente se torna fraco e cansativo.
Dos três, quem sai menos infeliz da experiência é Johnson, em um papel que recicla sua personalidade de Velozes e Furiosos, adicionando um intelecto bem-vindo em seu currículo. Gadot, perfeita para Mulher-Maravilha (e talvez só para Mulher-Maravilha), passa Alerta Vermelho distraindo a câmera com seu charme inabalável. Suas cenas de ação, que poderiam ser um destaque para a personagem e atriz, são também vítimas da produção.
Diversas vezes remetendo ao visual de um videogame, Alerta Vermelho não entrega nenhuma recompensa para quem veio pelas cenas de luta. Existem sim algumas sequências interessantes construídas pelo diretor Rawson Marshall Thurber, incluindo a primeira cena após os créditos iniciais, mas para uma aventura - ainda mais uma que pretende ter o clima que a trilha sonora aventuresca de Steve Jablonsky propõe - a produção da Netflix parece falhar em tantos elementos que ela acaba nem ali nem aqui.
Não me entenda errado. É bem provável que quem busca um entretenimento passageiro encontre algum conforto no novo blockbuster da Netflix. Mas “diversão barata” é precisamente o oposto da pretensão de Alerta Vermelho. Sua empreitada se pretende tão grandiosa que a experiência não consegue chacoalhar o sentimento de frustração. A sensação que fica é que a produção limitou-se em reunir estrelas, sem nenhum interesse no desenvolvimento de uma história cativante para acompanhá-las.
Ano: 2021
Direção: Rawson Marshall Thurber
Roteiro: Rawson Marshall Thurber
Elenco: Ryan Reynolds, Dwayne Johnson, Gal Gadot