Crítica: Alice no País das Maravilhas

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Crítica: Alice no País das Maravilhas

Visualmente lindo. E só.

22.04.2010, às 18H25.
Atualizada em 28.12.2020, ÀS 16H37

No dia 1º de março, alguns dias antes da estreia de Alice no País das Maravilhas nos cinemas dos Estados Unidos, o site College Humor postou um vídeo que parodiava o "processo criativo" de Tim Burton. Ele estava preparando um novo filme para o estúdio, e não seria um roteiro original, mas sim uma revisão de algo que já era sombrio, tornando ainda mais sombrio. A trilha sonora seria mais uma vez feita por Danny Elfman, que já até balbuciava as notas. Pessoas seriam pintadas de branco vestindo roupas listradas ou de tecidos escuros. E Johnny Depp e Helena Bonham Carter logicamente estariam no elenco.

A brincadeira não podia vir em melhor hora. Parece que Burton, uma das mentes mais criativas de Hollywood, foi dominado pelo seu ego, abriu uma vala para deixar escorrer os novos pensamentos que antes inundavam sua mente e partiu para a solidificação do "Burtonverse", em que ele pega tudo o que já existe hoje e impõe a sua versão, que é mais sombria, tem trilha sonora do Danny Elfman etc. Foi assim com A Fantástica Fábrica de Chocolate, Planeta dos Macacos, A Lenda do Cavaleiro Sem Cabeça e é assim com Alice no País das Maravilhas.

A história adapta contos e poemas escritos por Lewis Carroll e monta um cenário interessante: Alice (Mia Wasikowska), aos 19 anos, vai a uma festa e descobre que está prestes a ser pedida em casamento perante centenas de socialites. Ela então pede um tempo para pensar e deixa todo mundo com cara de interrogação. Enquanto corre, fugindo daquela situação constrangedora e pessoas que ela não gosta, vê um certo coelho branco de colete e relógio na mão e decide segui-lo. Cai, então, em um buraco e vai parar no País das Maravilhas.

Ela já havia visitado aquele mundo antes, mas achava que era apenas um sonho. Neste tempo, muita coisa mudou. A Rainha de Copas (Helena Bonham Carter) agora dá as cartas - e continua mandando cortar cabeças. O Chapeleiro Maluco (Johnny Depp) e a Rainha Branca (Anne Hathaway - uma princesa da Disney em todos os aspectos) esperam sua heroína para colocar ordem no Mundo Subterrâneo. Mas Alice não sabe se ela é essa pessoa. Ela não sabe mais quem ela é, nem o que quer fazer. E são esse caminho pela descoberta e a batalha entre o bem e o mal que vão nortear a história.

Maravilhado antes da hora

Desde que o projeto foi anunciado e a cada linda imagem que aparecia, a expectativa em torno do filme só crescia. Era o primeiro trabalho de Burton pensado em 3-D (antes, só O Estranho Mundo de Jack, que havia sido adaptado para o formato) e era também a volta do cineasta à sua primeira casa, a Disney onde havia trabalhado como animador e designer no início de sua carreira. Mas o primeiro trailer já mostrava que algo estava errado. A empolgação das fotos não se repetiam com as imagens em movimento. E o 3-D mostrado na prévia caía no lugar-comum de atirar coisas na direção do público.

E é isso. Apesar de um argumento interessante e painéis de deixar qualquer um de boca aberta, a história não convence e o 3-D continua apenas apontando para a plateia, como se alguém hoje em dia ainda esticasse o braço na tentativa de pegar os objetos em cena. Para piorar, o Valete (Crispin Glover) que vive colado na Rainha de Copas tem movimentos duros e nada orgânicos em cenas claramente construídas por computação gráfica e há uma desinteressante batalha épica no final, que simplesmente não combina com o que se imagina das histórias escritas por Lewis Carroll.

Tamanho deslize só não põe tudo a perder porque visualmente Alice é maravilhoso. Os cenários, os personagens e, principalmente, os figurinos fazem jus às imagens que vinham pingando pela Internet. Como Alice passa por várias transformações, crescendo e diminuindo de tamanho, ela acaba trajando diversos vestidos diferentes, um mais interessante que o outro na forma como são milimetricamente pensados para parecerem improvisados.

Mas é pouco. E não me entenda mal. Sou fã de Burton e de suas adaptações, porém, ao ver mais uma vez as árvores retorcidas, o cemitério como cenário, Johnny e Helena (a essa altura já somos íntimos) não resta mais dúvidas de que é um filme de Tim Burton. Mas quero ver coisas novas. Ao apenas repetir os desenhos que já fez dezenas de vezes, exagerar nas atuações e pintar tudo de preto, parece que Burton estava apenas trabalhando sob encomenda para a Disney, que por sua vez utiliza o hype em torno do filme para lançar linhas e linhas de produtos licenciados que vão de baralho, jóias e coleções de roupas, aos óbvios games e bonecos. E com isso todo mundo sai perdendo. O público, que vê apenas um filme mediano (com lindo visual). A Disney, que poderia vender muito mais se todos mantivessem a empolgação prévia ao sair dos cinemas. E Burton, que vira motivo de piada.

Nota do Crítico
Bom
Alice no País das Maravilhas
Alice in Wonderland
Alice no País das Maravilhas
Alice in Wonderland

Ano: 2010

País: EUA

Classificação: 10 anos

Duração: 108 min

Onde assistir:
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