Amsterdam começa e termina muito satisfeito consigo mesmo

Créditos da imagem: 20th Century/Divulgação

Filmes

Crítica

Amsterdam começa e termina muito satisfeito consigo mesmo

Novo filme de David O. Russell troca o caos pela segurança da excentricidade e do prestígio

Omelete
3 min de leitura
06.10.2022, às 18H00.

Uma certa dose de caos e imprevisibilidade é sempre um ingrediente dos filmes do roteirista e diretor David O. Russell. A câmera nervosa, o texto rápido, a direção de elenco que faz aflorar neuroses, tudo contribui para narrativas que, independente do tema, entram em ação de forma limítrofe. A validação de Russell como autor a partir de O Vencedor (2010), indicado a sete Oscars, tem feito com que esse frenesi nos seus filmes desacelerasse desde então.

O mais recente, Amsterdam, tenta colocar uma marcha mais rápida nas coisas e devolver um senso de urgência aos filmes do diretor, a partir de uma trama intrincada de morte e conspiração. Christian Bale e John David Washington vivem dois veteranos da Primeira Guerra Mundial que foram salvos no front por uma enfermeira (Margot Robbie) e agora, uma década e meia depois, se vêm envolvidos com a morte de um senador americano nos anos 1930, quando setores do poder nos EUA flertam secretamente com o fascismo.

A velocidade com que somos apresentados aos personagens no início - principalmente o médico excêntrico interpretado por Bale, ator que se tornou uma extensão temperamental de Russell em cena nestes últimos dez anos - faz parecer que o espectador seria arrebatado pelas reviravoltas e pela caracterização de época. À medida que avança a trama, inspirada em fatos históricos, e fica claro o seu propósito antifascista, Amsterdam vai se acomodando nas virtudes do seu discurso, porém.

No papel, Russell chega com uma ideia instigante, meio que fazer caber uma comédia de erros à la irmãos Coen num registro romantizado de época à maneira dos filmes tardios de Terrence Malick fotografados por Emmanuel Lubezki. Não por acaso, o diretor de fotografia de Amsterdam é o próprio Lubezki, em parceria inédita com Russell. O que se vê na tela, porém, é uma comédia de reviravoltas que parece sufocar, no cálculo preciso dessas reviravoltas escritas, aquele primeiro potencial de caos. O estilo flutuante de Lubezki também não parece ideal para a urgência que Russell busca, ainda que a montagem de Jay Cassidy se esforce para tirar o espectador de sua zona de conforto, trocando ângulos de câmera a cada corte.

O resultado é um filme que abre mão daquela imprevisibilidade e do caos criativo, para se proteger na excentricidade e no prestígio, como se esses dois elementos fossem suficientes para sustentar toda a empreitada. Amsterdam é um filme satisfeito consigo mesmo, não apenas satisfeito com a óbvia importância do seu tema político, mas satisfeito com as caricaturas que coloca em cena, com o arrojo de uma cenografia triunfalista (que se mistura sinuosamente no filme com a própria estética do triunfalismo fascista), com os rostos do seu belo elenco, com o sorriso sinistro de Bale, com a cadência envolvente da voz grave de Washington, com os leves movimentos de pescoço de Robbie. O trecho em que os três ficam repetindo em close-up o nome do filme - o ápice da autocongratulação - talvez pareça só risível para quem chega ao final de Amsterdam sem se envolver muito com o que o filme propôs.  

 

Nota do Crítico
Regular
Amsterdam
Amsterdam

Ano: 2022

País: EUA

Classificação: 16 anos

Duração: 126 min

Direção: David O. Russell

Roteiro: David O. Russell

Elenco: John David Washington, Margot Robbie, Christian Bale

Onde assistir:
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