É difícil resistir à obviedade de comparar filhos de cineastas famosos a seus pais quando o trabalho do novo diretor se parece tanto com o de seu genitor.
Antiviral filme
Antiviral filme
É exatamente esse o caso com Brandon Cronenberg, filho de David Cronenberg. Com seu longa-metragem de estreia, Antiviral, parece que o novato recebeu todas as boas referências possíveis de seu pai - e se apropria também de um dos temas mais queridos pelo veterano, o suspense de mutação (no estilo de A Mosca), e adiciona a ele uma dose de crítica à sociedade e à mídia (como Videodrome).
Em Antiviral, somos apresentados a uma sociedade não muito diferente da nossa, em que o culto às celebridades gera verdadeiras aberrações entre fãs e mídia a la TMZ. A diferença é que, neste futuro próximo, a obsessão pelos rostos inatingíveis das figuras públicas é tão grande que há quem pague - e muito - por doenças que estiveram em famosos. É possível contrair a herpes de uma supermodelo e atriz, por exemplo, nessa chamada "comunhão biológica".
A crítica comportamental não para por aí. Nessa realidade aberrante, as luxuosas empresas que efetuam os transplantes de doença tomaram os devidos cuidados para proteger os "direitos de reprodução" dos vírus que aplicam. Através de manipulação, conseguem remover os componentes que fazem com que doenças passem de uma pessoa para outra, tornando as doenças exclusivas do pagante. É o mais absurdo sistema anti-pirataria já criado...
Nesse cenário, o técnico Syd March (Caleb Landry Jones, o Banshee de X-Men: Primeira Classe) passa seus dias infectando pessoas nos belos escritórios de uma dessas empresas. Porém, por fora, ele integra um esquema de tráfico de vírus, infectando-se propositalmente para levar as doenças a um receptor. Sua sorte muda dramaticamente, porém, quando ele recebe uma misteriosa - e letal - condição.
Nesse ponto, o filme perde um pouco do lado experimental para tornar-se um thriller mais convencional. Mas os choques ao público estão apenas começando. Cronenberg preocupou-se em criar ambientes da maneira mais antisséptica possível - é tudo branco, prateado e frio, como se a Apple tivesse se aliado a Stanley Kubrick, e aberto um escritório de decoração dentro de THX 1138. Até o protagonista é extremamente pálido e asseado. Tudo isso para desconstruir esse mundo aos litros de sangue depois. Não por acaso, diversas pessoas da sessão de imprensa no Festival de Cinema de Toronto deixaram a sala na segunda metade do filme. É tudo "orgânico" demais e algumas das ideias ali são realmente de embrulhar o estômago (a carne processada a partir de células de celebridades é a pior delas).
O problema é que, diferente de Cronenberg pai, Brandon não consegue dar a seus personagens a realidade necessária e Antiviral acaba tão duro quanto as pessoas que se esgueiram dentro dele. Há bons momentos, algumas estranhezas bem-vindas e um conceito forte, pautado em uma crítica bem elaborada, mas Brandon Cronenberg ainda precisa aprender algumas lições adicionais de seu pai além de como chocar a audiência.
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Antiviral
Antiviral
Ano: 2012
Gênero: Drama
País: EUA
Classificação: 14 anos
Duração: 110 min
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