Assistir a As Passageiras, novo thriller de vampiros da Netflix, pode ser uma experiência frustrante, porque o filme repetidamente se posiciona para coisas boas, mas repetidamente falha em aproveitar e de fato cumprir suas promessas. Ao invés disso, a produção parece ativamente escolher um caminho mais medíocre do que os múltiplos outros que se apresentam diante dele, tropeçando no quanto se leva a sério e, consequentemente, no quão pouco é capaz de entregar.
O roteiro do estreante Brent Dillon começa bem ao tentar criar uma mitologia realmente única de vampirismo. Aqui, um acordo firmado séculos atrás entre vampiros e humanos (especificamente, os moradores de Boyle Heights, um bairro historicamente latino de Los Angeles) permite que os sanguessugas permaneçam nas sombras, com poucas pessoas sabendo de sua existência, desde que não se alimentem de seres humanos sem consentimento - há muitos por aí que curtem esse tipo de coisa, o filme reconhece -, e nem cacem dentro do Heights.
O chefão vampiro Victor (Alfie Allen), no entanto, não está feliz com esse arranjo, e manda duas de suas capangas mais capazes, Blaire (Debby Ryan) e Zoe (Lucy Fry), para massacrar a concorrência e instaurar o caos na cidade no decorrer de uma noite. O jovem Benny (Jorge Lendeborg Jr.), um estudante com ambições musicais, acaba se tornando o chofer delas meio sem querer, ao cobrir uma folga do irmão, Jay (Raúl Castillo) - que, aliás, também está metido nessa história de uma forma inesperada.
Parece a premissa perfeita para um thriller rápido e rasteiro, apoiado em algum apelo kitsch, e completo com imagens noturnas urbanas encharcadas de neon, certo? Bom, as pessoas por trás das câmeras parecem não achar. O roteirista Dillon quer ir mais fundo do que isso na construção dos personagens, o que poderia ser bom se ele fizesse alguma ideia de como de fato transformá-los em criações tridimensionais. Ao invés disso, o filme posiciona o protagonista Benny em uma jornada confusa de amadurecimento e realização profissional, que passa ainda pela improvável paixão por uma de suas passageiras vampiras, a (relativamente) doce Blaire.
Enquanto isso, o diretor Adam Randall (iBoy) cria um filme visualmente lustroso, sofisticado, mas pouco dado a de fato explorar as possibilidades dos cenários que visita. Não espere cenas de ação brincando com as luzes e sombras da noite na cidade grande, ou se deleitando nos baldes de sangue que uma luta contra vampiros inevitavelmente é capaz de derramar. De fato, não espere nada que realmente salte aos olhos - As Passageiras é decente de se olhar, mas não é um filme inspirado. Tem competência técnica, mas não estilo.
O único lampejo de brilhantismo genuíno vem de Lucy Fry, que engata uma marcha verdadeiramente alucinante de atuação da metade para o fim, e gera as poucas imagens indeléveis do filme. A sua Zoe coloca fogo em As Passageiras, mesmo quando todo o resto da equipe parece disposta a deixá-lo cozinhar em banho-maria - tanto que limitam as aparições de Megan Fox e Sydney Sweeney, que parecem se divertir enormemente em cena, a poucos minutos de filme.
Quem sabe, se seguisse mais a deixa de Fry, As Passageiras poderia ser uma boa sessão trash de Halloween. Da forma como está, é tão insatisfatório quanto uma mordida de vampiro interrompida pela metade.
Ano: 2021
País: Reino Unido/EUA
Duração: 107 min
Direção: Adam Randall
Elenco: Lucy Fry, Jorge Lendeborg Jr., Alfie Allen, Debby Ryan, Alexander Ludwig, Sydney Sweeney, Megan Fox