Atlas é ficção científica com coração, mas sem muito a dizer

Créditos da imagem: Netflix/Divulgação

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Crítica

Atlas é ficção científica com coração, mas sem muito a dizer

Filme com Jennifer Lopez faz reflexão batida sobre o papel da humanidade no "perigo" das IA

Omelete
3 min de leitura
24.05.2024, às 19H18.

Entre os muitos clichês que envolvem obras de ficção científica, o perigo envolvendo a evolução das inteligências artificiais é um dos mais batidos. Durante a corrida espacial dos anos 1960, Stanley Kubrick e seu 2001: Uma Odisséia no Espaço fizeram de HAL 9000 um dos vilões mais marcantes da história do cinema, e seu impacto serviu de influência para muitos robozões malignos que surgiram na cultura pop nas décadas seguintes.

Quase 60 anos depois, Atlas surge sem ter muito o que acrescentar, ainda que a Inteligência Artificial esteja na pauta do dia mais do que nunca. Na trama, situada em um mundo futurístico no qual as IA atingiram um nível inédito, o robô Harlan (Simu Liu) se torna o terrorista mais procurado do mundo após alterar de forma misteriosa o seu circuito interno e ganhar consciência própria, de tal modo que inicia uma revolução das máquinas para conter a maior ameaça à saúde do planeta Terra: os humanos.

Em sua revolta, Harlan - cujo nome não deve escapar aos conhecedores de ficção científica, em provável referência ao escritor Harlan Ellison (1934-2018), um dos mais bem sucedidos em migrar da literatura para o scifi hollywoodiano - obriga as nações a organizarem uma frente única contra a ameaça das máquinas. Harlan, porém, escolhe desaparecer. O sumiço da IA dura 28 anos, tempo o bastante para os humanos prepararem um contra-ataque, e a peça-chave que faltava para encontrar o terrorista surge na pele de Atlas (Jennifer Lopez), cientista renomada cujo passado está diretamente ligado à origem do robô.

Se o roteiro de Leo Sardarian e Aron Eli Coleite traz pouco de inovador, Atlas procura se sustentar na força de sua protagonista. Uma esforçada Jennifer Lopez faz da personagem o principal trunfo do longa, já que a sua participação na luta contra as IAs é carregada de traumas e culpas, o que faz da cientista a solução e maior ameaça da missão contra Harlan.

O passado sombrio da protagonista a torna o símbolo da discussão sobre o perigo das IAs. Embora seus superiores enxerguem a tecnologia como principal aliada da humanidade, Atlas se recusa a aceitar a ajuda do mecha superinteligente Smith (Gregory James Cohan) para ir à caça de Harlan no espaço. Sua preferência pelo mundo analógico e a falta de confiança também não são inovações - a adaptação asimoviana ao cinema Eu, Robô já explorou esta discussão há exatos 20 anos, para ficar em um exemplo - mas é na relação entre humana e robô na luta por sobrevivência que o filme prova ter ao menos um engajamento emocional.

Se Atlas parece ser mais um filme que cairá no esquecimento do vasto catálogo da Netflix, depois de um potencial interesse por conta da figura de Jennifer Lopez no cartaz, é o esforço da atriz que justifica o filme. Não apenas por se esmerar para criar a sua própria versão de Sarah Connor contra as máquinas, mas também porque é na humanidade de sua personagem que o longa tem seus melhores momentos. Atlas chora, se debate e luta constantemente para não criar uma conexão com Smith, mas é nas horas de vulnerabilidade que surge o afeto, e a dupla nos faz acreditar que é possível criar laços quando nos soltamos das amarras do preconceito.

O diretor Brad Peyton usa o conflito interno da personagem para ilustrar a discussão sobre o uso das IAs e apontar o dedo para nós, os únicos responsáveis por um possível apocalipse tecnológico. Se um robô criado pelo homem fosse capaz de matar, por que a mesma criação não seria capaz de salvar? A resposta gira em torno de nossas próprias questões morais, e Atlas tenta explicar isso de forma mastigadinha para quem ainda não entendeu. Talvez mastigada demais.

Nota do Crítico
Regular
Atlas
Atlas

Ano: 2024

Duração: 118 min

Direção: Brad Peyton

Elenco: Simu Liu, Lana Parrilla, Mark Strong, Jennifer Lopez

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