Ataque dos Titãs é uma das maiores franquias dos últimos anos. O mangá estreou em 2009 e desde então garantiu seu espaço na cultura pop com um anime de enorme popularidade, derivados, games, e não demorou para que fosse adaptado ao cinemas. Em 2015 estreava no Japão o primeiro live-action, dividido em duas partes, que chega aos cinemas brasileiros entre abril e maio deste ano.
Titãs são criaturas gigantescas com aparência humana, que vivem apenas para devorar pessoas. Para se defender, a humanidade passa a construir muros gigantescos em volta de seus territórios para que possam viver em paz e prosperar. Após 100 anos sem ataques, um Titã Colossal coloca o muro abaixo, possibilitando uma invasão em massa. Nesse mundo vivem Eren e seus amigos, que crescem com a memória dos horrores do ataque e decidem dedicar suas vidas a erradicar os Titãs.
Quando se trata de adaptar uma obra com aspectos tão característicos, fidelidade sempre se mostra uma grande preocupação. É inevitável fazer comparativos quando o material base é tão cultuado, e o live-action falha em reconhecer essas particularidades, tomando decisões questionáveis que tornam a experiência maçante.
Há pouco desenvolvimento de personagens, por exemplo. Apesar de Eren e seus amigos viverem os mesmos eventos do mangá, como a queda do muro, todo o resto é modificado gratuitamente. Suas motivações, objetivos e aprendizados são irrelevantes, fazendo com que suas jornadas sejam vazias. O mesmo ocorre com outros personagens, especialmente os secundários, que pouco acrescentam à trama.
O maior problema dessas inúmeras modificações é que são superficiais, sem propósito, e acabam por diluir as características que tornam o mangá (e anime) tão queridos. É uma péssima porta de entrada para possíveis novos fãs, pois falha como filme si só, não apenas como adaptação.
O roteiro se perde em diálogos expositivos para descrever a vasta mitologia desse universo de forma corrida, enquanto cenas inteiras são dedicadas a discussões irrelevantes ou alívios cômicos pouco convincentes. Momentos que deveriam prender o espectador na cadeira se alongam demais, perdendo o impacto e dificultando a imersão.
A parte visual se torna o maior trunfo do filme. Apesar de não trazer efeitos especiais do nível de grandes produções hollywoodianas, Ataque dos Titãs não desaponta ao mostrar os horrores de seres humanos sendo devorados vorazmente pelos gigantes. O filme acerta no design das criaturas com seus olhos sem vida, criando uma atmosfera de terror com momentos inspirados.
Enquanto a história original tem uma "volta" à idade média, aqui temos um cenário pós-apocalíptico tradicional, um dos poucos desvios da fonte que favorecem a trama. Cavalos e carroças dão lugar a veículos militares, mas a sujeira e escassez dão uma noção de limitação que convence.
Apesar de trazer um visual bem montado, Ataque dos Titãs se perde ao não entender a própria mitologia. Momentos chave da trama original são alterados, personagens fascinantes são substituídos por versões genéricas, e mesmo com cenas inspiradas, o filme passa longe de ter o mesmo impacto da obra original.
* A primeira parte foi exibida em circuito limitado no dia 5 de abril e ganha uma nova sessão no dia 8 de abril. A segunda parte do live action, Attack On Titan: Fim do Mundo será exibida em 13 de maio.
Ano: 2015
País: Japão