Batem à Porta

Créditos da imagem: Universal Pictures/Divulgação

Filmes

Crítica

Batem à Porta é suspense sem impacto

Filme de M. Night Shyamalan desperdiça boas atuações com monotonia

Omelete
3 min de leitura
02.02.2023, às 16H57.

Criar expectativas para novos lançamentos de M. Night Shyamalan tem se tornado uma das tarefas mais ingratas para fãs e críticos de cinema. Não pelas já características reviravoltas que o cineasta inclui em seus terceiros atos, mas pela inconstância de qualidade que sua obra vem passando nas duas últimas décadas pós-Corpo Fechado (2000). Para cada Sinais (2002) e Fragmentado (2016), temos um Vidro (2019) ou um A Dama na Água (2006). Infelizmente, é nesse segundo grupo que Batem à Porta, seu mais novo lançamento, se encaixa.

O longa começa encorajador. Shyamalan usa com maestria o espaço limitado da cabana na floresta e o talento de seu elenco, criando um primeiro ato de muita tensão e até uma certa dose de humor que zomba do absurdo da situação em que os sete personagens centrais se encontram. Tudo isso, no entanto, se esvai logo nos primeiros segundos do segundo ato, que lentamente transforma Batem à Porta em um suspense de pouca recompensa.

Mesmo que apoiado nas ótimas atuações de Dave Bautista e Jonathan Groff e na câmera de Shyamalan que sempre se move com precisão, Batem à Porta cansa ao usar a repetição da desgraça como forma de criar tensão. Ao invés de urgência, as constantes pausas e os flashbacks que conectam os eventos da isolada cabana ao restante do mundo criam um sentimento de monotonia e testam a paciência do espectador - a quem, no final, resta apenas esperar o desfecho para se certificar de que os personagens também sucumbirão a esse teste.

Além do tédio, Batem à Porta passa também a sensação de que Shyamalan não confia mais na inteligência de seu próprio público. Não são poucas as vezes em que o cineasta desperdiça minutos seguidos com exposições verborrágicas, mastigando cada detalhe de acontecimentos que deveriam ser, segundo o roteiro, inexplicáveis, abrindo mão do exercício interpretativo que integra seus melhores trabalhos.

Principal atrativo da obra de Shyamalan para o grande público, a reviravolta da vez talvez seja uma das mais fracas em sua obra. Telegrafada logo na primeira hora do longa, a resolução de Batem à Porta é entregue sem maior impacto, dado que é encenada tendo um certo senso respeitoso de humanismo como prioridade, acima da catarse violenta que se esperaria de um filme de terror de cabana.

Adaptando o livro de Paul Tremblay, Shyamalan e seus co-roteiristas Steve Desmond e Michael Sherman criam para si mesmos uma armadilha ao basear suas reviravoltas em conceitos e tropos conservadores. Acidentalmente ou não, as escolhas feitas pelo trio na conclusão do longa parecem pregar alarmismos similares aos de filmes religiosos de baixo orçamento produzidos por emissoras tradicionalistas norte-americanas.

Impossibilitado de operar fora dessa caixa em que se fecha, Batem à Porta é uma promessa vazia de “retorno à boa forma” de Shyamalan. Longe de ser o melhor ou o pior filme do cineasta, é um dos poucos títulos do cineasta marcado pela monotonia da austeridade.

Nota do Crítico
Regular
Batem à Porta
Knock at the Cabin
Batem à Porta
Knock at the Cabin

Ano: 2023

País: Estados Unidos

Classificação: 16 anos

Duração: 100 min

Direção: M. Night Shyamalan

Roteiro: M. Night Shyamalan, Michael Sherman, Steve Desmond

Elenco: Ben Aldridge, Rupert Grint, Dave Bautista, Nikki Amuka-Bird, Jonathan Groff

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