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Batman Vs Superman - A Origem da Justiça | Crítica

Zack Snyder dita o tom do Universo DC das telas de forma grandiloquente

Omelete
5 min de leitura
22.03.2016, às 19H00.
Atualizada em 29.06.2018, ÀS 02H46

Super-heróis são todos iguais? Há as distinções entre os vigilantes atormentados, os seres onipotentes que nos servem de ícones, os super-heróis que encontram no poder uma solução de autoestima. Mas a distinção mais dramática, mais barulhenta, aquela que movimenta a indústria e a nerdice há décadas, não é tão simples de definir, porque exige uma generalização: os super-heróis da DC são tão diferentes assim dos super-heróis da Marvel?

Se depender de Zack Snyder, essa diferença existe - inclusive Batman Vs Superman - A Origem da Justiça se dedica a deixá-la muito clara. A noção de que os super-heróis projetam ideais de perfeição - uma noção que Snyder não inventou e está no coração das HQs americanas da Era de Ouro - e de que os integrantes da Liga da Justiça são como ídolos gregos encarnados nos nossos dias ganha corpo em BvS bem ao estilo fetichista do cineasta. Se a Warner e a DC precisam mesmo se distanciar da Marvel para impor a Liga num mercado dominado pelos Vingadores, Snyder é o homem para o serviço.

O diretor faz em BvS uma opção muito consciente pela grandiloquência, inscrita na solenidade das suas famosas câmeras lentas, dos objetos em close-up salientados em fundos sem foco (o que o 3D só amplifica) e principalmente na trilha sonora meio escandalosa de Hans Zimmer. Snyder ganha a bem-vinda companhia do roteirista Chris Terrio, que contribui com trocas velozes de diálogos rebuscados (os monólogos de Lex Luthor são daqueles que pedem replay), e o filme todo parece funcionar num tom acima do costumeiro, não apenas esteticamente e na música, mas também na cadência picada e agitada das cenas que estabelecem por uma hora e meia o duelo esperado de Batman e Superman.

Se essas escolhas conseguem de fato dar aos super-heróis da DC um caráter próprio e não apenas um verniz operístico, é uma questão que fica no ar, e que assombrará os demais longas desse novo Universo DC das telas. Como Snyder é um diretor que funciona melhor nos excessos - inclusive quando os excessos se tornam um ponto crítico sobre os quais seus filmes se equilibram muito fragilmente (o homoerotismo em 300 ainda é o grande exemplo disso na sua carreira) - BvS termina se beneficiando. É visivelmente um filme atrás de uma identidade que o diferencie.

No momento a grande vitória, porém, é a correção de rumo.

Depois de fazer em O Homem de Aço um recomeço de mitologia cheio de ambições e de tropeços, Snyder alicerça BvS em tramas consagradas dos quadrinhos (os agradecimentos a Frank Miller e Dan Jurgens ao final não são por acaso), e mesmo que tenha 153 minutos o filme não patina em cenas desnecessárias. A trama é tocada adiante sem distrações pelo jogo de bastidores de Luthor - um personagem que felizmente já chega pronto ao filme, sem explicações de origem e outras notas de rodapé - e boa parte dos temas do filme são comentados apenas nos inserts de telejornais e talk shows, à moda Cavaleiro das Trevas. Talvez seja a contribuição de Chris Terrio - o roteirista que já sabia impor a Argo esse compasso de thriller bem amarrado e econômico - mas o fato é que os vaivéns atrapalhados de roteiro e o excesso de exposição de O Homem de Aço ficaram para trás.

A forma como Snyder trata Batman e Superman, com arcos bem básicos, os traumas do primeiro e os dilemas do segundo, também denota essa necessidade de descomplicar. Nesse sentido, BvS não apenas organiza as peças para a formação da Liga da Justiça no cinema como é um filme bem satisfatório para os espectadores iniciantes na mitologia dos heróis, uma vez que lida sem releituras arrojadas com as bases míticas do Homem de Aço (no seu eterno dilema messiânico de aceitação) e do Morcego (na sua eterna obsessão de testar a morte e os limites do homem, aqui em ritmo de crossfit).

E existe a correção de rumo derradeira: desfazer o destruction porn pelo qual O Homem de Aço é infamemente lembrado. Em entrevistas, Snyder não parece entender até hoje as críticas que se fazem ao clímax do seu filme anterior, mas é cristalino seu esforço aqui de mudar de chave. Sai a evocação sádica do imaginário do 11 de Setembro, dos escombros, na câmera desesperada por um registro de guerra, e entra uma versão mais estilizada e difusa. Snyder se preocupa em filmar a destruição de um jeito que ela não pareça exploratória, sádica ou real demais.

Essa preocupação está literal no filme (a menção a baixas civis na cidade em plena batalha campal se torna uma questão para os heróis), e, além disso, toda a ação climática contra Apocalipse é mostrada num show de luzes e poeira, turvo e francamente indistinguível em alguns momentos, com o cenário iluminado pelas chamas, pela visão de calor de Apocalipse e Superman, pelos raios dos pulsos de energia do monstro, pelos lampejos das armas de Mulher-Maravilha. Não é apenas uma ação deslocada do centro urbano, do mundo real: é uma ação pensada para ofuscar pelo brilho, pelo estouro. Uma destruição sem destruição.

E como já se tornou um hábito, Zack Snyder consegue equilibrar mais um filme em cima de elementos que muitas vezes parecem contraditórios. Ao mesmo tempo em que Batman vs Superman fala alto, Superman estufa o peito e Luthor grita fino, todos atrás de presença e de atenção, é um filme cadenciado que reformata viradas conhecidas, cumpre expectativas e não agride. Enquanto gênese da Liga da Justiça e de um universo de heróis, é um prudente princípio de conversa.

Nota do Crítico
Ótimo
Batman Vs Superman - A Origem da Justiça
Batman Vs Superman: Dawn of Justice
Batman Vs Superman - A Origem da Justiça
Batman Vs Superman: Dawn of Justice

Ano: 2015

País: EUA

Classificação: LIVRE

Duração: 0 min

Onde assistir:
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