Como narrar de forma diferente uma história que já foi contada mais de uma vez nas telonas? O diretor Cristophe Gans (Terror em Silent Hill, O Pacto dos Lobos) e a equipe de A Bela e a Fera foram buscar a resposta em Hollywood, tão afeita a refilmagens e remakes. A produção é franco-alemã, mas é impossível não notar características comuns aos blockbusters americanos na nova versão da clássica fábula escrita por Jeanne-Marie Leprince de Beaumont, que estreou no Festival de Berlim em fevereiro.
A história você provavelmente já conhece: um comerciante viúvo (André Dussollier) perde toda sua fortuna e é obrigado a se mudar para o campo com os seis filhos - entre eles, a modesta Bela (Léa Seydoux). Ao tentar recuperar o dinheiro, ele se perde em meio a uma tempestade e acaba em um majestoso castelo, onde ele consegue a riqueza perdida, mas é condenado à morte pelo dono do local, a Fera (Vincent Cassel, escondido entre CG e modulação de voz), por roubar uma rosa. Ao saber o que aconteceu, Bela toma o lugar do pai, mas, em vez de morrer, é obrigada a viver no castelo, com duas condições: ela não pode deixar o local, e deve jantar com a Fera todos os dias.
A versão de Gans busca ares épicos para a fábula: vários momentos são contados com ares de grandiosidade - tudo auxiliado por largas doses de computação gráfica. Na maior parte do tempo, o uso do CG é acertado, principalmente para transmitir a sensação de grandeza e mistério do castelo mágico que serve de cenário em boa parte do filme. Mas, em alguns momentos, o exagero incomoda - que o digam as esquisitas criaturas de olhos grandes, similares a cachorros, que fazem companhia a Bela em seu exílio.
Outro aspecto do longa influenciado por Hollywood é o roteiro. Embora não esconda ser um conto de fada (a trama, inclusive, é narrada por uma mulher que está colocando os filhos para dormir), o filme não infantiliza seus personagens. O sumiço da riqueza da família faz as relações entre eles desmoronarem, trazendo à tona vários lados questionáveis da personalidade de cada um deles: o pai de Bela não tem vergonha de roubar o castelo da Fera e se empanturrar de sua comida, o filho mais velho se envolve com criminosos, e as irmãs mais velhas de Bela não escondem o desprezo pelo estlo simples da protagonista - e a inveja que sentem ao vê-la retornar com vestidos belíssimos.
Mesmo com todo o jeito de superprodução, o filme tenta se diferenciar dos blockbusters convencionais nos sonhos em que Bela descobre o passado da Fera (também alterado em relação ao conto original), sempre por meio de um espelho d'água em cenários lisérgicos que, aliado ao figurino, faz o espectador se sentir em um comercial de perfume. No final, o que prevalece é mesmo o visual de encher os olhos.
A Bela e a Fera | Cinemas e horários
Ano: 2014
País: França
Classificação: 12 anos
Duração: 112 min