Cena de BlackBerry (Elevation Pictures/Reprodução)

Créditos da imagem: Elevation Pictures/Reprodução

Filmes

Crítica

BlackBerry é uma hilária experiência de acompanhar o declínio de uma corporação

Produção canadense retrata o nascimento, o desenvolvimento e a morte do antigo rival do iPhone

Omelete
4 min de leitura
12.10.2023, às 06H00.

Houve um tempo quando todos nós tínhamos modelos de celulares diferentes. Uns dobravam, outros tinham um teclado maior, alguns vinham até com caixa de som potente. O panorama mudou quando o BlackBerry apareceu no mercado, o celular que trouxe muitas das tecnologias que estão em smartphones hoje. A ascensão ligeira e a queda dramática desse produto, que agora mais parece uma relíquia, chega aos cinemas em BlackBerry.

O longa inicia na década de 1990, quando o engenheiro Mike Lazaridis (Jay Baruchel) apresenta a uma empresa sua mais nova empreitada: colocar um computador dentro de um telefone celular. Apesar de suas boas ideias, faltava em Lazaridis a sagacidade e o jogo de cintura para impressionar potenciais investidores. E em uma reunião de pitch frustrada, o engenheiro conhece Jim Balsillie (Glenn Howerton), um daqueles vendedores aniquiladores, mas cuja posição na empresa estava por fio. Balsillie, então, age rápido e após conhecer o tímido engenheiro, que acabara de ter o seu investimento negado, propõe que eles abram uma empresa juntos. E assim nasceu a RIM (Research In Motion), companhia que mudou a cara da telefonia mundial graças ao lançamento do primeiro telefone a funcionar efetivamente como um smartphone no mercado.

Apesar de alguns desacordos entre os CEOs, uma vez que a empresa é montada, o filme rapidamente engata em direção à ascensão do celular na mídia e no mercado. Embora não tenham sido tão populares no Brasil, vale notar que, em seu auge, os BlackBerry dominaram 43% do mercado de telefonia móvel mundial. Essa ascendência tão almejada pelos executivos e cabeças da RIM passa quase como uma estrela-cadente após uma montagem de cinco minutos, e o filme avança para mostrar o começo do fim com o lançamento de um pequeno aparelho conhecido como iPhone.

Até pela trajetória simples do seu produto, BlackBerry pode decepcionar quem espera por reviravoltas mirabolantes ou tramas complexas. O roteiro quer levar o espectador até o fim desta história, contando o seu começo, meio e fim sem firulas ou reviravoltas. Embora apresente algumas das tramoias judiciais com que os executivos da marca tiveram que lidar ao longo de sua curta e impactante existência, Blackberry se apresenta como uma narrativa simples e didática.

Pode parecer pouco para gerar algum interesse pelo filme, numa época em que Hollywood encontrou nas “biografias de produtos”, como o Nike Air ou Tetris, um subgênero para acomodar suas narrativas triunfantes de glórias e lições de declínio. Mas BlackBerry tem o seu diferencial: é hilário do início ao fim. Reunindo referências que vão de The Office a The Thick of It (criação de Armando Ianucci, conhecido pelo humor ácido e ofensivo, em meio a cenários corporativos), BlackBerry faz uso de câmeras trêmulas, rápidas e muitos closes, e conta uma história que pode parecer desinteressante para muitos com ironias grotescas, constrangimento e humor seco.

Jay Baruchel (This Is The End) e Glenn Howerton respondem como protagonistas por boa parte da efetividade da comédia. Baruchel, um daqueles atores naturalmente engraçados, consegue depositar todo o desconforto, a fragilidade e a ansiedade social do inventor do aparelho em praticamente todas as cenas em que aparece. É fácil rir de seus trejeitos desajeitados ou suas frases sem nexo soltadas com nervosismo, seja em uma reunião com investidores ou durante uma negociação por telefone.

Já Howerton, a verdadeira estrela do filme, incorpora um pouco de Dennis Reynolds, seu personagem de It's Always Sunny in Philadelphia, mas com uma pegada cheia de crueldade. Sua atuação poderia colocá-lo em um posto ao lado de Peter Capaldi e seu implacável Michael Tucker de The Thick of It e In The Loop. Howerton, aliás, deveria estar entre os principais cotados para o Oscar deste ano, com uma atuação mais hilária do que a de um certo galã loiro em um filme de boneca.

No final das contas, BlackBerry se destaca em relação a outros filmes de produto ou produções sobre a ascensão de mentes brilhantes que revolucionaram o mundo da tecnologia por ser uma empreitada narrativa das mais modestas. É absolutamente linear a forma como acompanhamos a invenção do aparelho, seu desenvolvimento, sua ascensão e queda, porque não há tantas tramas paralelas ou o desabrochar de personagens. De tão simplória, e efêmera como a própria jornada do smartphone, a narrativa pode até mesmo ser lida na íntegra pela Wikipedia – a única coisa que não posso garantir com essa alternativa é sentir sua barriga doer de rir.

Nota do Crítico
Ótimo
BlackBerry
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BlackBerry
BlackBerry

Ano: 2023

País: Canadá

Duração: 121 minutos min

Direção: Matt Johnson

Roteiro: Matt Johnson, Matthew Miller

Elenco: Jay Baruchel, Matt Johnson, Rich Sommer, Glenn Howerton

Onde assistir:
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