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Crítica

Capitães da Areia | Crítica

Adaptação do clássico de Jorge Amado se satisfaz com a idolatria

06.10.2011, às 20H00.
Atualizada em 21.09.2014, ÀS 14H28

Traço formador da cultura baiana, o sincretismo aproxima credos distintos como o catolicismo e o candomblé. A veneração de imagens religiosas é um ponto em comum entre os dois, e em Capitães da Areia os ídolos de barro estão por todos os lados, sejam vivos ou inanimados.

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O principal deles, vivíssimo, é Pedro Bala (Jean Luis Amorim). O líder dos Capitães da Areia, menores sem pais que vivem de pequenos delitos na Salvador dos anos 1930, sabe desse encanto que a sua imagem provoca. No filme, ele surge visto em um espelho. O reflexo dos seus longos cabelos molhados, registrado nesse espelho, é então depositado em uma oferenda a Iemanjá - a inequívoca santificação de Pedro Bala, ali, logo no começo, prescinde de milagres.

A imagem do ídolo basta. Ao longo do filme dirigido pela neta de Jorge Amado, Cecília Amado, revisitamos o livro do escritor numa narrativa cheia de tópicos (diálogos textuais pontuam cenas isoladas, como a do padre, a do agenciador de trombadinhas, a do mecenas, sem que uma cena gere consequências nas demais) que têm como ligação apenas a devoção da câmera pelos corpos, pelas imagens dos ídolos.

Frequentemente essa devoção se traduz em estilização. Quando saltam ou gingam os Capitães são filmados em borrões em câmera lenta, como se fosse possível congelar um movimento de capoeira. E quando se escoram pelas paredes à noite, focos de luz barroca transformam os garotos em modelos cientes de suas poses, dispostos teatralmente dentro do quadro como se fossem integrantes de uma das quadrilhas de West Side Story.

Como um ídolo tem apenas a própria imagem como garantia, vale reparar em como os desfavorecidos se afetam. Há aqueles que ficam pelo caminho (a doença que vitima alguns personagens, importante notar, se manifesta na pele) e há outros que não se adequam à adoração, como o deficiente Sem Pernas (Israel Gouvêa), o único Capitão que foge do padrão de virilidade e que sonha com uma família tradicional, com um amparo.

Quem já leu o livro de Jorge Amado sabe que Pedro Bala, a certa altura, também sofre uma emasculação. É aí, no clímax, que a idolatria se consuma em Capitães da Areia: descaracterizado como Sansão naquilo que lhe é mais caro, sua imagem, Pedro Bala se "refugia" na memória do seu reflexo. O filme recorre a flashes constantes do passado para impedir que a beleza do seu Capitão se perca.

Ela não se perde, mesmo porque o final retoma a oferenda do começo. É um círculo que encerra a si mesmo, é uma vaidade que se satisfaz.

Capitães da Areia | Trailer
Capitães da Areia | Cinemas e horários

Nota do Crítico
Regular
Capitães da Areia
Capitães da Areia
Capitães da Areia
Capitães da Areia

Ano: 2011

País: Brasil

Classificação: 14 anos

Duração: 96 min

Direção: Cecília Amado

Elenco: Jean Luís Amorim, Ana Graciela, Robério Lima, Paulo Abade, Israel Gouvêia, Ana Cecília, Marinho Gonçalves

Onde assistir:
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