Casamento Sangrento tem uma premissa que, em sua superficialidade, poderia apontar para um terror com comentário social. A promissora história de uma noiva humilde que acaba vítima de um ritual satânico de uma família milionária tinha tudo para desenvolver-se em algo mais profundo e metafórico, mas a tarefa não foi realmente alcançada pelos diretores de Matt Bettinelli-Olpin e Tyler Gillett. Para o seu próprio bem, Casamento Sangrento rapidamente se desenvolve para um terror com comédia divertido e despretensioso, e funciona muito melhor assim.
Samara Weaving interpreta Grace, uma ingênua noiva que, sem parentes próximos, está ansiosa para se juntar à família de seu novo marido, o herdeiro de uma dinastia de jogos de tabuleiro. No dia do casamento, no entanto, ela descobre o ritual que todo novo membro da família Le Domas precisa passar: um jogo escolhido por sorteio. Quando Grace descobre que o esconde-esconde da família tem consequências mortais, ela precisa arranjar uma maneira de sobreviver à sua noite de núpcias. Se desenvolvendo em um jogo de gato e rato, Casamento Sangrento se baseia em muito sangue, algumas boas piadas e um visual estiloso.
Vale dizer logo de cara que Casamento Sangrento não seria o mesmo sem o brilho de Samara Weaving. A protagonista entrega um tempero fundamental para elevar o terror a outro nível. Com o talento já visível no (muito inferior) A Babá, Weaving aqui tem a oportunidade de demonstrar um carisma e uma interpretação de peso que facilmente pode carregar qualquer produção nas costas. E o alcance da atriz - que passa de uma noiva ingênua à uma sobrevivente inescrupulosa - é admirável. Todo o frescor que ela traz é transmitido à obra de Bettinelli-Olpin e Gillett, não apenas incorporando uma personagem relacionável, por mais absurdo que seja seu contexto, mas também inovando ao entregar um vigor descontraído raramente visto.
O estilo e direção de Casamento Sangrento também são certeiros. Com exceção, talvez, de um visual escuro demais, o longa tem uma elegância despojada própria e um ritmo divertido de acompanhar, que estabelecem um futuro promissor da dupla de diretores no gênero. Mas onde o filme falha é em seu roteiro, não exatamente pela sua trama, que funciona bem, mas pelos seus personagens. Com exceção de Grace, ninguém na família Le Domas é realmente cativante.
A irmã atrapalhada interpretada por Melanie Scrofano rende algumas risadas e Andie MacDowell parece desconexa no papel da matriarca, um que nunca faz jus ao seu talento. E enquanto a tia maléfica e caricata interpretada por Nicky Guadagni beira o ridículo, fica nas costas do marido de Grace (Mark O'Brien) ou do patriarca Tony (Henry Czerny) a responsabilidade de injetar alguma profundidade na família Le Domas. Enquanto tudo isso acontece, Adam Brody batalha para não parecer demais o Seth de The O.C em um papel sem grandes exigências.
Felizmente, isso não impede que Casamento Sangrento entregue sustos, sangue e muita aflição durante um desafio de esconde-esconde, e saiba muito bem investir e focar em sua protagonista para arrematar tudo com um toque de esperteza e acidez que é o real trunfo do jogo. Entre boas escapadas e becos sem saída, Casamento Sangrento é bem amarrado e definitivamente divertido, fugindo do lugar comum para acertar na construção de algo refrescante de assistir.
Casamento Sangrento está disponível no catálogo do Telecine Play e também nas plataformas on demand.
Ano: 2019
País: EUA
Direção: Tyler Gillett, Matt Bettinelli-Olpin
Elenco: Henry Czerny, Adam Brody, Samara Weaving, Andie MacDowell