"Aproveitem o dia, rapazes" - comanda o professor John Keating - "Façam de suas vidas algo extraordinário". Cansado da vida previsível e regrada do instituto em que vive, Stallone vê nas palavras do professor de Sociedade dos Poetas Mortos e no carro do jardineiro - tão conversível quanto o de Thelma & Louise - a oportunidade de transformar sua vida, e a de seus dois colegas, em algo excepcional.
colegas
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Seria mais uma aventura de estrada e referências, não fosse pelo fato do trio - Stallone (Ariel Goldenberg), Aninha (Rita Pokk) e Márcio (Breno Viola) - ser composto por jovens com síndrome de Down. É o diferencial, mas não o mote, do filme de Marcelo Galvão, que cria em Colegas uma fábula universal sobre dificuldades e sonhos, sem nunca abordar diretamente o distúrbio genético dos seus protagonistas. A ideia não é levantar bandeiras, mas criar uma história lúdica para "mostrar que tudo é possível", seja para os portadores de Down ou não.
Stallone, batizado em homenagem "ao maior ator de todos os tempos", parte com seus amigos em busca de sonhos - coisas simples como ver o mar, casar ou voar. No caminho, acabam fazendo paradas estratégicas para, munidos de uma arma de brinquedo e inspirados pelo cinema, assaltar lojas de conveniência, o que acaba acrescentando perseguição policial à lista de gêneros do filme.
Ancorado pela experiência na publicidade, Galvão cria um universo estético que se encaixa na natureza fantástica do seu roteiro, escrito com Ricardo Barretto. Simetria e anacronismo (nos moldes de Wes Anderson) casam com o senso de humor da trama e as sutis referências cinematográficas - de Cães de Aluguel a Blade Runner, passando por Jules e Jim e 8 ½.
Colegas falha apenas quando sente a necessidade de se explicar. A narração de Lima Duarte, que acompanha o filme do início ao fim, estraga diversos momentos que não precisavam ser esclarecidos. Seja quando insiste em entregar as intenções/motivações de seus personagens, apesar do bom trabalho de Goldenberg, Pokk e Viola, seja quando precisa explicar o porquê da ótima trilha sonora ser composta por canções de Raul Seixas.
Galvão cresceu ao lado de um tio com Down, consciente que, embora cheia de dificuldades, essa síndrome não significa tristeza. Ao humanizar seus personagens, ao invés de santificá-los, entrega um filme muito mais sensível e eficaz do que qualquer campanha de conscientização.
Ano: 2012
País: Brasil
Classificação: 10 anos
Duração: 100 min
Direção: Marcelo Galvão
Elenco: Ariel Goldenberg, Breno Viola, Rita Pokk, Lima Duarte, Rui Unas, Rui Unas, Leonardo Miggiorin, Marco Luque, Juliana Didone, Christiano Cochrane