Existe um termo conhecido chamado “jeitinho brasileiro”, que seria basicamente a capacidade da população do país em conseguir coisas sem muito esforço ou dedicação. Esse termo diz bastante sobre Como Se Tornar o Pior Aluno da Escola, comédia baseada no livro de Danilo Gentili, que também atua na produção.
A trama acompanha Pedro (Daniel Pimentel), um jovem que está prestes a terminar o ensino fundamental, sempre foi um bom aluno, mas agora não encontra mais motivação para estudar. Um dos motivos colocados pelo filme é de que o pai do garoto, que sempre se dedicou, tinha um bom emprego, etc., morreu há pouco tempo de um ataque do coração, dando a impressão de que todo o esforço foi em vão. Assim, Pedro e seu amigo Bernardo (Bruno Munhoz) procuram por um ex-aluno da escola que parece ter as dicas perfeitas para colar na prova final.
Começando pelos pontos positivos, o longa tem momentos realmente engraçados, principalmente graças à Carlos Villagrán, que faz o dedicado diretor Ademar, e Moacyr Franco, que interpreta o faxineiro louco da escola. É impossível não rir com o personagem, que representa aquele funcionário que não liga muito pra nada e parece estar presente em todas as escolas. Os protagonistas adolescentes também têm uma boa atuação, representando todas as decisões erradas e confusões dessa época da vida. Porém, a essência do humor de Como Se Tornar o Pior Aluno da Escola é de piadas sujas e bobas. Enquanto uma plateia de adultos dá uma ou duas risadas, um grupo de adolescentes vai se divertir bastante.
O grande problema do filme é a sua mensagem questionável. Danilo Gentili usa seu personagem para dizer que não é preciso estudar, que a escola não define como será a sua vida adulta. Essa última parte não está completamente errada, afinal existem vários casos de pessoas que mudaram completamente depois de alguns anos e nem se reconhecem do tempo da juventude. Porém, o que acompanha essa mensagem no filme é o discurso de que você não precisa fazer o que te deixa deixar triste ou infeliz, de que a vida adulta é uma completa diversão, em que você faz apenas o que quer. O personagem de Gentili é o porta-voz e exemplo disso: alegando que ganhou um prêmio, ele vive rodeado de mulheres, tem um lindo apartamento e entra em festas aplicando o já citado “jeitinho”.
Porém, a maioria sabe que a vida não é totalmente curtição: todos precisam passar por momentos difíceis, seja um emprego que não gosta para conseguir comprar as coisas que quer, pegar ônibus lotado para juntar dinheiro para aquele carro, ou dormir pouco para fazer um curso que vai melhorar sua vida. Não há uma fórmula para o sucesso, de fato. Muitos que não terminaram a escola estão ricos, enquanto pós-graduados procuram emprego. Mas todas essas pessoas fizeram e fazem coisas que não gostam, porque isso é parte da vida e esse é o maior ensinamento da escola. O filme poderia ter se eximido ao não tentar passar mensagem nenhuma, apenas mostrando as peripécias dos jovens tentanto passar de ano. Mas os discursos (muitas vezes do próprio Gentili, outras vezes em narração do personagem Pedro) estabelecem que há sim um intuito do filme em passar algum "ensinamento".
Como Se Tornar o Pior Aluno da Escola é apenas uma comédia rasa com piadas sexuais e escatológicas que erra quando quer ser mais do que isso. Quem procura esse tipo de humor vai se divertir, do contrário, o filme não tem muito para oferecer.
Ano: 2016
País: Brasil
Classificação: 14 anos
Duração: 103 min
Direção: Fabrício Bittar
Roteiro: Danilo Gentili, Fabrício Bittar
Elenco: Danilo Gentili, Bruno Munhoz, Daniel Pimentel, Carlos Villagrán, Danilo Gentili, Moacyr Franco, Raul Gazolla, Joana Fomm, Rogério Skylab, Fábio Porchat