Jia Zhang-ke segue sua exploração eterna das transformações da China, país do qual ele é o cineasta mais importante hoje.
Como em Em Busca da Vida, Plataforma e O Mundo, as mudanças das últimas décadas do gigante econômico e populacional são retratadas em 24 City (2008) - diferente desses filmes, porém, aqui o foco não é a mutação da agricultura para a industrialização, mas a modernização dessa industrialização, e o que isso significa em termos de qualidade de vida à população economicamente privilegiada.
24 city
24 city
24 City registra a evolução da cidade de Chengdu. O local prosperou com as guerras do século passado, fabricando armamentos e munição em uma fábrica, a 420, que abrigava milhares de operários. "No verão fazíamos até nosso próprio refrigerante", orgulha-se um dos trabalhadores que passaram por ali. Com a modernização do país, porém, as estruturas de Chengdu foram ficando obsoletas, aos poucos desativadas. Os tempos são outros e a China - e seu povo - enriquece, criando a demanda por novas "Pequins", cidades modernas com complexos de apartamentos de luxo. Chengdu então derruba todas as suas fábricas em busca de um futuro de aço, luz e vidro.
Zhang-ke busca as histórias da velha Chengdu através de entrevistas com três gerações de pessoas que lá trabalharam. Desde os que viveram a Revolução Cultural e seus princípios ("não tenha, não deseje"), aqueles que enchiam o peito para cantar hinos que honravam o valor do trabalho duro; aos que cresceram ali, vendo a rotina de seus pais; aos mais jovens, que têm pouca - ou nenhuma conexão - com os velhos hábitos.
As entrevistas são conduzidas em espaços solitários, destacando rostos da superpopulação chinesa, pessoas cujas histórias misturam-se à do gigante asiático. Alguns dos relatos beiram o irreal - como a senhora que revela ter perdido um filho durante a migração dos operários à 420 (o barco não podia esperar ela achar o menino), outros são de um drama tocante. O relato do jovem que perde o respeito pelo pai no dia em que veste pela primeira vez um macacão é especialmente emblemático da mudança de mentalidade do povo chinês. Fábricas são demolidas - e com elas todo um sistema de princípios. Sob a poeira da mudança, a nova geração busca entender quem é.
Ano: 2008
País: China
Classificação: 14 anos
Duração: 112 min