Há uma maldição em curso. Depois de perder a esposa, Ignacio Carrillo (Marciano Martínez) decide largar a vida de menestrel e se desfazer do arcordeão que lhe foi dado por seu mestre. Não é um instrumento normal. Com chifres colados em cada uma das extremidades do fole, ele faz jus ao seu apelido: Acordeão do Diabo.
Ignacio ruma para o norte, vai atravessar o país - daí o nome do filme. A paisagem colombiana é diversa: deserto, lagos, campos, florestas, montanhas, plantações. Ignacio ganha a companhia de um moleque (Yull Núñez) que insiste em ser seu aprendiz. Está montada, então, a fórmula de um road movie que será, via de regra, libertador para Ignacio e de amadurecimento para o garoto.
Acontece que Los Viajes del Viento aos poucos toma a forma de um outro tipo de road movie: o filme-de-travessia, popular subdivisão do gênero da fantasia. A seu modo, por exemplo, O Senhor dos Anéis é um filme-de-travessia. Em sua viagem, Ignacio encontrará tipos clássicos: rivais bruxos, eremitas sábios, donzelas à espera do príncipe, rituais de iniciação e de sacrifício.
Isso faz da obra, no mínimo, um programa curioso. Quando muitos "filmes de festival" já recorrem ao minimalismo e a paisagens em scope para soar vastos e profundos, para promover uma espécie de turismo metafísico, com suas histórias cheias de folclore e música para gringo ver e ouvir, vem Ciro Guerra com seus duelos de repente e machete. Bardos e cavaleiros.
O colombiano está longe de ser um Terrence Malick, é verdade, mas enxergar o filme por esse viés pode torná-lo menos maçante.
as viagens do vento
Ano: 2009
País: Colômbia/Alemanha/Argentina/Holanda
Classificação: 12 anos
Duração: 117 min