Faltam a muitos filmes nacionais a espontaneidade na atuação. Tudo porque há por aí atores com vícios televisivos ou teatrais que quando chegam ao cinema declamam seus textos e, assim, chutam para longe o realismo, afinal, na vida real que eles tentam mimetizar, ninguém fala com tanta dramaticidade por tanto tempo. No início de Romance (2008), Wagner Moura está, sim, declamando textos a Letícia Sabatella, que os devolve no mesmo tom. Naquele momento, eles são Pedro e Ana, dois atores interpretando a peça O Romance de Tristão e Isolda no novo filme de Guel Arraes (O Auto da Compadecida, Lisbela e o Prisioneiro).
Depois de três comédias, o diretor agora pega um tema mais denso - o amor - e brinca o tempo todo com o texto mais rebuscado e com as intersecções que existem entre os personagens Pedro e Ana, e a história dentro da história. É um trabalho imaginado desde o roteiro co-escrito com Jorge Furtado (O Homem que Copiava, Saneamento Básico - O Filme) e muito bem filmado e editado, deixando bem claro para o público que vida e arte se copiam. O tempo todo!
Romance
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O amor impossível e eterno dos palcos vira algo real fora deles. Porém, finito. Convidada pelo diretor (José Wilker) de uma poderosa rede de TV sediada no Rio de Janeiro, Ana começa a morar na ponte-aérea, fazendo novela durante a semana e a peça nos dias restantes. Para Pedro, Ana está traindo a verdadeira arte pelo sucesso da TV e pode fazer o mesmo com outros homens. E assim o casal se desfaz.
Três anos se passam até que os dois se reencontrem. O motivo da reunião é contar novamente a história de Tristão e Isolda, agora na TV. A diferença é que desta vez, ele vai apenas dirigir e escrever, adaptando a Europa medieval para o nordeste brasileiro do início do século 20. No lugar de trovadores e senhores feudais entram os músicos de cordel e coronéis. Para o papel de Tristão, eles querem um não-ator, e assim entra em cena Orlando (Vladimir Brichta), que vai se infiltrar entre os nordestinos sob o nome de José de Arimatéia.
O que ninguém imaginava é que ele também fecharia o triângulo amoroso com Pedro e Ana. E este é o ponto fraco do filme. Apesar das ótimas atuações, falta à relação de Ana e José o mesmo ímpeto com que ela se entrega a Pedro. A esta altura, o amor já foi discutido de várias maneiras e nenhuma delas parece se encaixar àquela paixão instantânea. Não se vê ali o ciúme de Otelo, as palavras escritas, mas não ditas do Cyrano de Bergerac ou o beijo perfeito de Gustav Klimt, para ficar apenas nas imagens utilizadas pelo próprio filme.
Lindas imagens, aliás, que só quem é apaixonado - pelo cinema, pelo teatro, pelo drama, por boas histórias, etc. - conseguiria criar, e por isso Romance tem tudo para repetir o sucesso das comédias de Guel Arraes. Seria essa a primeira vez que Tristão e Isolda terminam com um final feliz?
Romance
Romance
Ano: 2008
Lançamento: 14.11.2008
Gênero: Romance
País: Brasil
Classificação: 12 anos
Duração: 110 min
Direção: Catherine Breillat
Roteiro: Catherine Breillat
Elenco: Caroline Ducey , Sagamore Stévenin , François Berléand , Rocco Siffredi
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