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Crônica de uma Fuga | Crítica

Crônica de uma Fuga

12.10.2006, às 00H00.
Atualizada em 05.11.2016, ÀS 06H04

Crônica de uma Fuga
Crónica de una Fuga
Argentina, 2006
Suspense - 103min

Direção: Adrián Caetano
Roteiro: Esteban Student, Adrián Caetano e Julian Loyola, baseado em livro de Claudio Tamburrini

Elenco: Rodrigo de la Serna, Pablo Echarri, Nazareno Casero, Diego Alonso, Guillermo Fernández, Rito Fernández, Leonardo Bargiga, Luis Enrique Caetano, Martín Urruty, Matías Marmorato, Lautaro Delgado

Muitos filmes políticos erram por transformar seus personagens em figuras ideais. Na vontade da denúncia, do engajamento, sobram slogans e acaba faltando a sua humanidade. Felizmente, não é o que acontece com Crônica de uma fuga (Crónica de una fuga, 2006), e por um motivo crucial: o seu herói não faz parte da resistência.

Claudio (Rodrigo de la Serna, o Alberto Granado de Diários de Motocicleta) tem todo o jeito de ser comunista. Guarda bandeiras de protesto em casa. Goleiro do time do bairro, reclama ao técnico depois da derrota que falta ao time união. Transcorre 1977, a violenta ditadura na Argentina, e os repressores batem à sua porta. Levam-no preso. Logo descobrimos que ele foi dedurado por um jovem que não aguentou a tortura. Só que Claudio não tem nada a ver com os insurgentes. Teve apenas o azar de ter seu nome lembrado por um desesperado.

A sua situação na mansão Seré - centro de detenção e tortura da polícia no bairro de Morón, periferia de Buenos Aires - é similar à de outros presos. Na tentativa de se verem livres, os que estão na casa há mais tempo entregam novos nomes, que entregarão outros, e assim por diante. Mas Claudio tem a sua dignidade. Tem mais esperança de ser libertado do que de perpetuar o castigo com outros inocentes. Depois de quatro meses de tortura, porém, resta pouca luz. E aí começa a crônica da escapada, baseada em história verídica.

O diretor uruguaio Adrián Caetano cimenta o seu manifesto contra a repressão, antes de mais nada, preocupando-se em montar um suspense tenso. Iluminação baixa, vastos espaços e câmera fixa, para impor a claustrofobia. Eliminar dramatização excessiva é parte do processo (não há homens fazendo suas últimas preces ao som de violinos). Outra parte é não ter medo da realidade - se os presos eram mantido desnudos, sujos e machucados, que o elenco reproduza a situação. Claudio passa boa parte do tempo pelado, coberto de hematomas, e isso é bom avisar. Não é coisa para qualquer espectador.

Da relação de sobrevivência entre Claudio e os presos vem a força conceitual do filme. Eles não tentam escapar em nome de uma causa. Não lutam para derrotar o regime. Não pregam suas idéias ao demais. Querem apenas retomar suas existências. Não são seres apolíticos, de maneira alguma. Mas o fato de não abraçarem bandeiras é o que permite expor as suas fragilidades, é o que torna a tortura tão dolorosamente verdadeira. Ver que Claudio de uma hora para a outra passa a recorrer a Deus é um desses exemplos do que pode acontecer a uma pessoa normal em momento de ruína. Questionar a ideologia do protagonista é algo que jamais ocorreria num filme político de panfleto.

Não há cena mais latente desse humanismo do que o reencontro com a grávida. É uma sacada genial, que sintetiza um tipo de perda que só entende quem a vivencia.

Nota do Crítico
Bom
Crônica de uma Fuga
Cronica de Una Fuga
Crônica de uma Fuga
Cronica de Una Fuga

Ano: 2006

País: Argentina

Classificação: 14 anos

Duração: 103 min

Onde assistir:
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