Reclama-se muito da falta de cinema de gênero no Brasil. Eu, inclusive. Filmes de ação, terror, ficção, suspenses não são frequentemente encontrados na nossa produção, mais centrada em dramas e comédias (da pior espécie). Se não está na "Tela da Globo", o tema dificilmente encontra espaço no circuito.
desaparecidos
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Daí a vontade de elogiar a iniciativa de um filme como Desaparecidos, o primeiro longa do subgênero da "filmagem encontrada" a ser realizado aqui e conseguir circuito exibidor. Vontade alguma, porém, é párea para a triste realidade da mediocridade do projeto.
David Schurmann (O Mundo em Duas Voltas), diretor e roteirista, descreve o filme como "transmídia", já que criou perfis falsos no Facebook para os personagens e os manteve atualizados durante um ano antes do lançamento. A intenção era "explorar o que é verdadeiro na Internet", um debate que já começa 10 anos datado, desde que Bruxa de Blair discutiu justamente isso, muito antes das redes sociais sonharem em existir. Sem esquecer de Holocausto Canibal, obra seminal do subgênero, que debateu esse mesmo tema há 30 anos, mas aplicado à TV. Enfim, a conversa é velha (mas pelo menos os perfis não foram no Orkut).
Independente da irrelevância do debate, se Desaparecidos tivesse alguma ideia verdadeiramente sua, talvez valesse a pena. Mas Schurmann faz uma colagem sem-vergonha de tudo o que foi lançado nesse estilo até aqui - e consegue ser ainda pior do que seus antecessores.
Na trama, um grupo de jovens é convidado para uma festa (Cloverfield começou assim). Eles recebem de um amigo rico a câmeras para colocar no pescoço que se ligam automaticamente a cada hora e pouco, registrando uma cena e se desligando depois ("para economizar bateria", explica um dos personagens, didaticamente). Na festa, um dos convidados se embrenha no mato com uma garota - levando seus amigos iniciarem uma busca. O grupo todo se perde, a la Bruxa de Blair, e passa a enfrentar uma ameaça invisível, que sacode folhas e passa rapidinho na frente da tela, naqueles sustos fáceis de Atividade Paranormal (filme cujos planos são frequentemente copiados).
A escolha do cenário era inspirada... Ilhabela é mesmo cercada de lendas legais. Mas todos os cortes do filme são acompanhados de uma insistente estática falsa... sem exceção, tornando a experiência muito mais irritante e amadora do que deveria (ok, Schurmann, deu pra entender a ideia nos primeiros 3 minutos). Igualmente desequilibrada é a "atuação" (ou gritaria). São longos minutos de meninas histéricas falando uma por cima da outra, em uma cacofonia perfurante de ganidos.
Nada se salva na primeira tentativa de Schurman na ficção. Não é dando "copy/paste" nos filmes dos outros que o cinema brasileiro conseguirá estabelecer por aqui um apreço a gêneros ainda pouco explorados. Não sou partidário da falácia da "identidade nacional", mas adoraria ver uma "criatividade nacional" nos cinemas. Desaparecidos é só um lamentável desperdício de recursos - que, ao menos, saiu todo do bolso do diretor, sem utilização de leis de incentivo.
Em determinado momento uma das autoridades que encontram as câmeras do grupo comenta "deram baixa violenta no indivíduo". Pois com Desaparecidos, Schurmann dá uma baixa violenta no cinema.
Desaparecidos | Cinemas e horários
Ano: 2011
País: Brasil
Classificação: 14 anos
Duração: 73 min
Direção: David Schurmann
Roteiro: David Schurmann, Rafael Blecher
Elenco: Charlene Chagas, Natalia Vidal, Pedro Urizzi, André Madrini