Sem ineditismo do original, Desencantada se segura no brilho de Amy Adams

Créditos da imagem: Disney+/Divulgação

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Crítica

Sem ineditismo do original, Desencantada se segura no brilho de Amy Adams

Que surpreendente, uma sequência desnecessária

Omelete
4 min de leitura
18.11.2022, às 10H54.

A experiência é sempre similar: a desconfiança com o anúncio de um reboot ou uma sequência, a eventual empolgação que vem impulsionada pelas prévias, e a inevitável frustração com a produção geralmente desnecessária que é entregue. Que pena que Encantada caiu nessa armadilha. 

Porque a jornada é tão familiar, não existia muita esperança de que Desencantada, a sequência que chega 15 anos depois do primeiro filme, conseguisse trazer de volta o brilho de Giselle, Andalasia e companhia para 2022. Mas o filme original é tão precioso que era esperado que a Disney conseguisse capturar pelo menos algo da sua mágica. Até que conseguiu, mas nem isso é surpreendente: o talento imparável de Amy Adams, responsável por dar o arremate final em um filme impecável em 2007, aqui, é suporte essencial.  

Uma das grandes armadilhas de Desencantada é, simplesmente, o seu contexto. Em 2007, a Casa de Mickey era outra, muito mais tradicional, e Encantada foi uma das primeiras produções a subverter os costumes dos contos de fadas, questionar os papéis de seus personagens e se divertir com a reviravolta das regras. Em 2022, depois de Frozen, Maléfica, Moana e por aí vai, não há nenhuma novidade ou ousadia em subverter as tradições da Disney. 

Mesmo assim, o ponto de partida de Desencantada é esperto, e segue o caminho do primeiro ao colocar o foco na impossibilidade do “felizes para sempre”. Na sequência, encontramos a família de Giselle, Robert (Patrick Dempsey) e Morgan (Gabriella Baldacchino) naquele mesmo apartamento de Nova York, mas sem seu encanto dos dias áureos. A chegada de um bebê tornou a vida mais estressante, e a adolescência de Morgan também vem com suas turbulências. Não demora para que Desencantada encare a realidade de frente e, por mais que Giselle nunca diga em voz alta, seus olhos questionam se deixar Andalasia para trás foi realmente uma boa escolha. A resposta é a mudança para o subúrbio. 

É um ótimo começo, até porque faz com que esse filme infantil tenha sua temática madura, desenvolvida com o pé no chão. Ver Robert não conseguindo responder se é realmente feliz e enxergar Giselle caindo na amargura é um movimento relativamente ousado, e segura Desencantada até que a ex-princesa de Andalasia resolve tentar consertar tudo com mágica. Desejando viver em um conto de fadas, Giselle transforma Monroeville, sua nova cidade, em um vilarejo encantado, e seu papel de madrasta da família a leva em uma jornada típica para esse contexto. Aqui, Amy Adams se aventura na sempre garantida interpretação de dupla personalidade, enquanto Giselle tenta resistir às tentações de se tornar a vilã de sua história. 

Enquanto Adams se diverte e entrega à Desencantada tudo que ele tem de melhor, os outros personagens vindos de Encantada sofrem de uma falta de propósito bem ingrata. Robert busca uma aventura em cenas quase vergonhosas e o Edward de James Marsden, um dos maiores triunfos do primeiro filme, é reduzido a um alívio cômico que não compensa. Nesse cenário, são os novos personagens que encontram algum espaço para chamar de seu, mesmo que não seja muito amplo. A Rainha Má de Maya Rudolph, por exemplo, seria ótima se tivesse mais o que fazer senão ser reduzida a um papel vilanesco sem muito propósito. 

Parte de tudo isso sai de uma simples limitação do potencial de Encantada, trazido para a era do streaming com todas as infelicidades que com ela vêm. A troca de Nova York por Monroeville é um movimento significativo que, embora faça sentido na trama, acaba reduzindo também os alcances da sequência. É difícil não sentir frustração por números musicais sem grandes ganchos ou pretensões, que dão sequência a um filme que se tornou um clássico instantâneo muito por sua vontade de grandiosidade. 

Enquanto Encantada convencia até os mais ocupados e azedos cidadãos de Nova York a sair cantando e dançando pelo Central Park, Desencantada não encontra nenhum número musical marcante, por mais que a cativante música das vilãs soe como um bom passatempo. As canções de Alan Menken e Stephen Schwartz aqui não parecem ter vontade de sair da tela, e esquecem a doce ironia das letras do primeiro filme para tropeçar em direção ao brega. “Love Power”, balada cantada por Idina Menzel pode até ser emocionante pela performance sempre certeira da cantora, mas seria preciso tempero para não tornar tudo simplesmente meloso. 

Desencantada não é um fracasso e, inclusive, tem graciosidade o suficiente para não colapsar em si mesmo, principalmente por se sustentar tanto na performance de Adams. Mas existe algo inescapável em viver na sombra de um original tão bom, com charme de filme clássico, eterno. A parte mais azeda de tudo isso é quão certa está a moral da sequência: realmente, não existe um “felizes para sempre” - muito menos para os filmes do catálogo da Disney. 

Nota do Crítico
Regular
Desencantada
Disenchanted
Desencantada
Disenchanted

Ano: 2022

Direção: Adam Shankman

Elenco: Patrick Dempsey, Idina Menzel, Maya Rudolph, Amy Adams, James Marsden

Onde assistir:
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