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Crítica

Dívida de Honra | Crítica

Tommy Lee Jones volta ao faroeste de travessia para fazer mais uma elegia à América

19.03.2015, às 10H36.
Atualizada em 29.06.2018, ÀS 02H35

Diz-se dos filmes de estrada, ou de viagens em geral, que não importa o destino e sim a jornada, mas em certos faroestes faz diferença saber a direção. Marchas a Oeste carregam consigo a esperança do recomeço e a ansiedade da conquista, mas o que resta aos desbravadores do Velho Oeste americano que são forçados a fazer o caminho contrário, de volta ao Leste?

Em Dívida de Honra (The Homesman, 2014), seu mais recente trabalho como diretor, Tommy Lee Jones volta a fazer desse subgênero tão particular, o western de travessia, uma elegia aos desiludidos, a exemplo do seu primeiro longa de cinema, Três Enterros (2005). A trama baseada no romance homônimo de 1988 de Glendon Swarthout acompanha uma mulher, Mary Bee (Hilary Swank), e um malandro posseiro (Jones) que saem do Nebraska e precisam escoltar três mulheres dementes até o Iowa.

Transcorre o ano de 1854, e não são apenas os índios, os bandidos e o inverno que se colocam no caminho entre os dois Estados vizinhos. Mary Bee e o posseiro carregam consigo a culpa do insucesso, de todos aqueles que não encontraram no Oeste o oásis que a campanha da Conquista prometia. É o eterno mito da América como terra das oportunidades que Jones volta a revirar aqui, desta vez tendo o testemunho feminino como ponto de vista privilegiado.

A personagem de Swank, pioneira que luta para não se embrutecer pela vida malvista de mulher solteira, poderia ser uma das três coitadas enlouquecidas pelas promessas não cumpridas. A grande pergunta que acompanha Dívida de Honra ao longo da viagem é essa: o que torna a protagonista diferente?

A resposta, como na maioria das vezes, independente da época ou da geografia, está na alteridade. O personagem igualmente perdido de Jones, desiludido não por causa do fracasso do desbravamento mas por seu sucesso (em tudo aquilo que a guerra e a violência podem render tanto como trauma quanto como revelação), se torna um duplo de Mary Bee, e a capacidade que um tem de enxergar no outro as virtudes dessa fábula que é o "povo americano" os ajuda a sobreviver.

A relação de dependência entre a mulher e o posseiro não se faz de uma forma romantizada - Jones parece a última pessoa no mundo a acreditar em almas gêmeas - e sim como alegoria da formação do país. Por mítica que seja, a construção do ideal americano de oportunidade é o que fez dos EUA uma realidade possível, em um território tão hostil ao senso de unidade. A elegia de Dívida de Honra, no fim, não se refere à morte das coisas, mas à possibilidade sempre do recomeço, à horizontalidade.

Dívida de Honra | Cinemas e horários

Nota do Crítico
Ótimo
Dívida de Honra
The Homesman
Dívida de Honra
The Homesman

Ano: 2014

País: EUA/França

Classificação: 16 anos

Duração: 122 min

Direção: Tommy Lee Jones

Roteiro: Tommy Lee Jones

Elenco: Tommy Lee Jones, Hilary Swank, Grace Gummer, Miranda Otto, Sonja Richter

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