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Drácula - A História Nunca Contada | Crítica

Sem tentações da carne, filme de origem transforma Vlad numa vítima das circunstâncias

22.10.2014, às 17H00.
Atualizada em 29.06.2018, ÀS 02H36

Drácula - A História Nunca Contada (Dracula Untold, 2014), filme de origem do vampiro mais famoso do cinema, retrata Vlad Tepes (Luke Evans) como uma vítima de um acordo faustiano, um príncipe da Trânsilvânia que faz uma aliança com uma criatura das trevas para defender seu povo e sua família do hegemônico exército turco.

Século XV, Romênia, Império Otomano... Tudo isso soa muito distante do cinemão americano, mas é só aparência. Este Drácula é inequivocamente hollywoodiano em um sentido: lida com naturalidade com a violência, como se a guerra fosse um ofício como qualquer outro, mas não sabe tratar de sexo. A tentação da carne é elemento central do vampirismo, de Bram Stoker a Anne Rice, e o filme do diretor Gary Shore ignora esse fundamento por completo.

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Por mais que Luke Evans tente, seu Vlad nunca terá o peso dos maiores Dráculas, por uma razão de princípio: o filme não compromete o personagem com a violência (o Empalador matou milhares de pessoas mas em momento algum esse passado se mostra um fardo) nem o compromete com o sexo (Vlad bebe sangue para fins práticos, ele fala em "sede" mas nunca usa a palavra "tentação").

Se há uma fantasia erotizada neste Drácula é somente o fetiche da guerra, a demonstração grandiosa dos poderes de destruição do vampiro. De novo, o filme não compromete seu protagonista: o mal é uma conveniência eventual (a armadura guardada a sete chaves numa sala do castelo) e o mal está nos outros (Vlad é o único que não cede a instintos primitivos).

Frases de efeito à parte ("às vezes o mundo não precisa de um herói, e sim de um monstro"), Shore não consegue fazer deste seu vampiro um monstro de fato, que vá além das deformações físicas via computação gráfica. É um herói bem desinteressante, na verdade, o Vlad Tepes de Luke Evans, com seu sacrifício cristão vindo pronto de fábrica.

Para sacramentar o fetiche da violência, outra coisa que vem pronta de fábrica aqui é a ideia de que "tudo é um jogo", como diz o personagem de Charles Dance, o vampiro original, apresentado para iniciar com Drácula - A História Nunca Contada um universo de filmes compartilhados com os outros monstros clássicos da Universal. Eis o novo Drácula: sem trauma e sem conflito, no jeito para virar peão de franquia.

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