Cena de Emmanuelle (Reprodução)

Créditos da imagem: Cena de Emmanuelle (Reprodução)

Filmes

Crítica

Mais sonho febril que sonho molhado, novo Emmanuelle seduz - mas não satisfaz

Espírito delirante da pornografia softcore à la Cine Privê sobrevive no filme de Audrey Diwan

Omelete
4 min de leitura
23.04.2025, às 06H00.

Se você se lembra de algo sobre os filmes que assistia às escondidas no Cine Privê, a infame sessão de pornografia softcore das madrugadas da Rede Bandeirantes, provavelmente não é a trama. Em parte isso tem a ver com o público que costuma se dedicar a esse tipo de filme, é claro, mas em parte também é uma arquitetura proposital. Feitas com orçamentos pífios e intenções mercadológicas que colocavam o esmero narrativo lááááá para baixo na lista de prioridades, esse tipo de produção normalmente seguia uma lógica própria, insinuando algum mistério banal como desculpa para criar a atmosfera de tensão na qual se podiam amarrar o maior número de situações sexuais possíveis, não importa quão improváveis elas fossem. Emmanuelle (1974) e suas infinitas continuações não são exceção.

Se o filme original aposta numa mistura de affairs extramaritais para chacoalhar a relação entre a personagem título e seu marido, eventualmente incluindo até uma escapada para a floresta com uma das amantes de Emmanuelle, as sequências vão se desdobrando em novas profissões, enrascadas e cenários inesperados nos quais a personagem pode encontrar aventuras eróticas que desafiam mais e mais a credibilidade. Não à toa, na altura dos anos 1990, ela já estava transando no espaço. O caráter episódico dessas tramas, bem como suas justificativas estapafúrdias para chegar aos finalmentes, criam um clima de delírio que só é realçado pela fotografia de iluminação incandescente e superfícies leitosas que definem a cafonice desse tipo específico de cinema erótico.

Pois então. Se tem algo que Emmanuelle (2024) entende muito bem, é que o DNA da franquia está tanto (senão mais) no clima de sonho febril quanto no de sonho molhado. No comando dessa nova versão, a cineasta francesa Audrey Diwan (O Acontecimento) localiza sua Emmanuelle num foco difuso de narrativa tenuamente amarrada, vagamente tensionada por um mistério que nunca se concretiza. Já no roteiro, que Diwan divide com Rebecca Zlotowski (Os Filhos dos Outros), a protagonista (Noémie Merlant) é posta em um hotel de luxo quase pecaminoso no coração de Hong Kong, as luzes da cidade cosmopolita cintilando pelas janelas amplas e sempre escancaradas, mas cada ambiente do lado de dentro controlado e envernizado até os mínimos detalhes.

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Contratada pela administradora do hotel para checar silenciosamente a qualidade do serviço, e especialmente o trabalho da gerente vivida por Naomi Watts, Emmanuelle vaga pelas entranhas do local com acesso quase ilimitado a amenidades, quartos alheios e salinhas de segurança escondidas nos fundos. E daí o filme vai construindo as ideias simultaneas e contraditórias que lhe definem: por um lado, Diwan e o seu diretor de fotografia habitual, Laurent Tangy, se entregam à pornografia do luxo, transferindo as superfícies imaculadas do hotel até para as peles peroladas que se tocam nas cenas de sexo, num mundo dedicado à sensualidade do arrepio, e não do suor; por outro, este Emmanuelle sugere o tempo todo que há algo algo de sinistro, ou ao menos proibido, se escondendo por baixo dessa fachada.

Acontece que o filme para por aí, na sugestão. Ficamos na insinuação de um escândalo que nunca escandaliza. Assim, os personagens que transitam ao redor da protagonista entram e saem de cena à esmo, em um ritmo quase enervante. Emmanuelle sabe pouco sobre eles, e descobre menos ainda. Tenho a sensação de que, quanto mais você me conta sobre si mesmo, menos te conheço, diz a protagonista para o seu misterioso crush Kei (Will Sharpe) em uma cena no segundo ato, e esse parece ser o lema do filme como um todo. Diwan entende, é claro, que o tesão que ela quer evocar está no mistério, não no conhecido - mas também entende que resoluções de pouco interesse para o gênero em que está metida. Bom, quase toda resolução.

É sábio que Emmanuelle termine tão brevemente após um orgasmo, porque indica exatamente onde estão suas ambições como história. Diwan quer nos seduzir, nos hipnotizar com um mundo ao mesmo tempo inatingível e táctil, uma atmosfera que podemos respirar, mas que sabemos não ser real. Fantasia, enfim. Se falta ao filme dela algo de corpóreo, uma palpabilidade que lhe torne mais satisfatório como cinema, não é à toa. A brincadeira é exatamente perguntar o que queremos ver, que tipo de imagens nosso subconsciente gera. 50 anos depois, Emmanuelle segue sendo exatamente a ideia inefável que sempre foi. Para o bem e para o mal.

Nota do Crítico
Bom

Emmanuelle (2024)

Emmanuelle

Ano: 2024

País: França, EUA

Duração: 107 min

Direção: Audrey Diwan

Roteiro: Audrey Diwan, Rebecca Zlotowski

Elenco: Will Sharpe , Noémie Merlant , Jamie Campbell Bower , Naomi Watts

Onde assistir:
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