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Crítica

Estamos Juntos | Crítica

Apelo humanista consegue as respostas certas para as perguntas erradas

02.06.2011, às 18H00.
Atualizada em 21.09.2014, ÀS 14H21

Em Estamos Juntos, o seu quarto longa-metragem de ficção, o diretor Toni Venturi concilia o tema do seu documentário Dia de Festa, as ocupações de prédios abandonados no Centro de São Paulo, com um drama de isolamento que lembra outra de suas ficções, Cabra-Cega. É um encontro de temas que tem dificuldade de balancear o individual e o coletivo.

O roteiro de Hilton Lacerda acompanha Carmen (Leandra Leal), médica residente que se mudou há poucos anos do interior do Rio para São Paulo com seu amigo gay, Murilo (Cauã Reymond). Carmen não descansa. Descobrimos no começo que ela teve um caso rápido com um médico e raramente acompanha Murilo na balada. A convite de outra médica (Débora Duboc), passa a fazer trabalho comunitário em um prédio ocupado ao lado da Luz, no Centro - e o ofício toma a rotina de Carmen por inteiro.

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Não é fácil ser um workaholic no cinema. É pedir pra passar por lições de humanismo, e Carmen descobre isso da pior maneira. Não vou contar aqui do que se trata, mas é uma informação que altera a vida da personagem. Venturi estiliza essa descoberta com efeitos de áudio - ora escutamos todos os sons do Centro, ora ficamos quase surdos sob o ponto de vista de Carmen - para pontuar o descompasso entre a médica e o mundo ao redor. O retrato da alienação se completa com a fotografia de Lula Carvalho, quase tão rococó quanto a de Incuráveis.

Uma pergunta que dois personagens se fazem mais de uma vez - "o medo deixa as pessoas mais egoístas?" - dá o tom em Estamos Juntos, mas fica a sensação de que ela diz mais respeito a um estado das coisas (vivemos todos sitiados) do que, propriamente, à postura de Carmen. Porque não fica claro, a princípio, de que medo é esse que se fala. Carmen tem um companheiro, com ele divide as pequenas coisas da vida, como quebrar um ovo cozido no café da manhã, mas o roteiro lacunar não explica se é um amor, um familiar ou mesmo uma projeção do inconsciente. O filme dá a entender que a personagem é assombrada por uma ausência, e essa questão não se resolve.

Não se resolve porque Venturi está mais interessado na coletividade. Estamos Juntos estabelece dois núcleos, o pobre (o prédio ocupado) e o rico (as baladas do amigo gay), com paralelismos sociológicos entre eles (concerto na laje) e resta a Carmen uma desconfortável função pendular nessa história. É uma pena, porque Venturi tem bom olho para as pequenas coisas, e aqui elas se perdem no meio da auto-importância dos Grandes Temas.

Em toda a sua boa vontade, Estamos Juntos acaba conseguindo as respostas certas para as perguntas erradas. Para entender sua protagonista, deveria ter se perguntado "o que Carmen quer do mundo?" ao invés de "o que o mundo espera de Carmen?".

Estamos Juntos | Cinemas e horários

Nota do Crítico
Regular
Estamos Juntos
Estamos Juntos
Estamos Juntos
Estamos Juntos

Ano: 2011

País: Brasil

Classificação: 14 anos

Duração: 111 min

Direção: Toni Venturi

Elenco: Leandra Leal, Cauã Reymond, Nazareno Casero, Lee Taylor, Dira Paes

Onde assistir:
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