É raro encontrar um filme que acerta tanto a fórmula do slasher como Feriado Sangrento - ou Thanksgiving -, o novo terror de Eli Roth. Por mais que o passo a passo do gênero seja relativamente fácil de seguir (só é preciso um assassino cativante, uma final girl convincente e, sempre que possível, um pretexto convincente para existir), Feriado Sangrento é persistentemente certeiro em cada um de seus elementos: o assassino John Carver é icônico, a jovem Jessica é bem gente como a gente, e, sobretudo, a premissa do Dia de Ação de Graças é perfeitamente utilizada.
Pode até parecer exagero, mas Feriado Sangrento é de fato surpreendente porque ele faz tudo isso com uma facilidade admirável, marcante também pelos seus 20 anos de gestação. Para um filme que nasceu de um trailer fictício de 15 anos atrás (a prévia “Thanksgiving” fez parte do lançamento de Grindhouse, filme que uniu À Prova de Morte e Planeta Terror com uma coleção de trailers falsos), o despretensão que Roth demonstra por toda duração de Feriado Sangrento é notável. Seu principal acerto na evolução do projeto durante estes anos foi segurar a mão no absurdo. Por mais que o longa tenha ótimas mortes, nojentas e inventivas, ele nunca remete à energia de paródia que era central à prévia de 2007.
O que dá o pontapé para os eventos de Thanksgiving é uma fatídica Black Friday da cidade de Plymouth, Massachusetts, onde a loja de departamento Right Mart se torna palco de uma violenta histeria coletiva. Um ano depois, Jessica (filha do dono da loja) e seus amigos viram alvo de um maníaco mascarado que persegue todos que entraram na Right Mart antes dos portões abrirem. A caçada pelos jovens, claro, faz também várias vítimas pelo caminho, com divertidas cenas de morte: seja em um frigorífico, um forno ou simplesmente em uma festa de adolescentes, o assassino John Carver devasta Plymouth enquanto o público - e o grupo de amigos - faz suas teorias de quem está por trás da máscara.
O leque de personagens suspeitos - que envolvem um antigo namorado, um pai ambicioso, policiais, amigos descartáveis e por aí vai - se amontoa em um terreno muito bem construído de whodunit, digno de causar inveja para o reboot de Pânico, até porque Thanksgiving traduz muito bem para 2023 a atmosfera deste específico tipo de slasher. A comparação com a franquia não se limita a este aspecto, inclusive: a autoconsciência do filme de Roth, combinada com um bom equilíbrio entre humor e susto, faz de Feriado Sangrento um dos slashers que mais sabe utilizar tudo que deu certo no filme de 1996 - e faz isso sem nenhuma nostalgia.
Feriado Sangrento é, aliás, um terror decididamente moderninho, que tem uma marca clara de seu tempo. De marcações sinistras no Instagram até a escalação da celebridade do TikTok Addison Rae, passando pela crítica óbvia ao consumismo desenfreado (nada nova, mas agora especificamente inspirada no caos crescente de Black Fridays e nos saques a lojas nos EUA), tudo grita por 2023. Mas muito disso é também instantaneamente icônico, desde a ótima cena do massacre no Right Mart até a máscara de John Carver. O que Eli Roth realiza aqui pode parecer formulaico, mas não é nada fácil de encontrar - e Feriado Sangrento pode, sim, se chamar de digno para entrar no hall dos filmes de terror clássicos de datas comemorativas.
Ano: 2023
Direção: Eli Roth
Roteiro: Eli Roth
Elenco: Patrick Dempsey