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Crítica

Fome de Poder | Crítica

O capitalista enquanto showman

07.03.2017, às 17H52.

Há um momento luminoso, entre muitos, na sétima temporada de Mad Men, quando Don, Peggy e Pete vão ao BurgerChef e mais uma vez o capitalismo e a publicidade se unem para dar a forma mais plena do american way: a ideia de que ir ao fast food pode ser um evento-família tão edificante quanto o almoço caseiro de Ação de Graças. Todo marketing das hamburguerias americanas historicamente deriva dessa noção de que o fast food nasce de costumes, de coletividade, e não de conveniências da industrialização.

Fome de Poder (The Founder, 2016) tem um apelo inegável enquanto narrativa porque é como se essa desmistificação do fast food tivesse - na história da briga dos irmãos Richard e Maurice McDonald contra Ray Kroc, o "fundador" do McDonalds - todo um começo, um meio e um fim. Kroc conheceu os McDonalds nos anos 1950 e, a partir de uma invenção dos irmãos, a cozinha modulada que impunha ao giro da hamburgueria um ritmo fordiano, criou para si o império que viria a se espalhar pelo planeta todo.

Recém-indicado ao Oscar por Birdman, Michael Keaton interpreta Kroc no filme do diretor John Lee Hancock, que abre com um close-up do ator, discursando diretamente para a câmera. Fome de Poder adere logo de cara ao filme-de-ator, seguindo o receituário dos dramas que problematizam os capitalistas americanos, de Wall Street a O Aviador, e a certa altura está fadado a emparelhar Kroc com o Howard Hughes de Martin Scorsese, com seu monólogo para o espelho (que o próprio Scorsese já copiava de si mesmo, de Touro Indomável). Não há nada mais garantido, nesse tipo de filme, do que atribuir ao magnata características de showman.

Se o filme de Hancock tem suas limitações, elas estão intimamente ligadas a essa escolha. Porque embora Kroc no fundo talvez seja apenas um tipo obstinado sem brilho (todos os coadjuvantes que atravessam seu caminho no filme parecem trazer-lhe soluções de graça), Keaton dá ao personagem um verniz de carisma e de energia. Ray Kroc é orador, contador de histórias, cantor, pianista, galanteador. As ambições de todos que o orbitam se condicionam à de Kroc, e ao fim Fome de Poder tem uma cara muito mais de cinebiografia solene - embora o olhar sobre o "fundador" não seja lisonjeiro - do que de estudo sobre o capitalismo, como Hancock parece supor.

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A grande surpresa, aqui, e que termina se tornando a principal arma do filme, é a trilha sonora do compositor Carter Burwell, que consegue dar conta de uma transição do triunfante para o sombrio - quando o sonho dos McDonalds aos poucos se transforma no sonho de Kroc - com uma variação sutil de temas ao piano. Graças a Burwell, o trabalho de Hancock soa melhor do que realmente é: um registro bastante monocórdio do empresário enquanto profeta, sempre com monólogos vorazes e frontais, com palanques e palavras finais, enquanto resolve problemas domésticos e logísticos.

No fim, em Fome de Poder, quem vence é o anúncio, a fachada, reiterando o brilho muito particular de vendedores natos como Don Draper e Ray Kroc. Keaton consegue dar ao personagem a sua especialidade: o sorriso sinistro, que muda rapidamente do acolhedor para o tóxico, mas não muito mais do que isso. Talvez Paul Thomas Anderson tenha sido mais esperto, porque também revisitou Scorsese e o monólogo do espelho em Boogie Nights, mas em forma de paródia.

Nota do Crítico
Bom

Fome de Poder

The Founder

Ano: 2016

Lançamento: 09.03.2017

Gênero: Drama

País: EUA

Classificação: 14 anos

Duração: 120 min

Direção: John Lee Hancock

Roteiro: Robert D. Siegel

Elenco: Michael Keaton , B.J. Novak

Onde assistir:
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