Filmes

Crítica

Garra de Ferro constrói drama aterrorizante a partir de traumas e obsessões

Zac Efron e cia. montam família de sorrisos em tragédia baseada em fatos

Omelete
3 min de leitura
06.03.2024, às 06H00.
Atualizada em 06.03.2024, ÀS 15H39

A contradição é um fator que permeia Garra de Ferro do início ao fim, dentro e fora da tela. Estrelado por Zac Efron, cuja fama ainda hoje evoca sua carreira na juventude, o longa despe o ator da lembrança dos musicais adolescentes em um drama intenso sobre as frustrações dos adultos, mas ainda assim preserva de Efron uma ingenuidade pueril. Ao mesmo tempo, enquanto a mente dos Von Erich pelo status de grande espetáculo que marca o Olimpo do wrestling, o diretor Sean Durkin mantém os pés no chão num tenso drama doméstico. O conto de horror que sai desta trágica história real é tão relacionável quanto inverossímil.

A trajetória da família Von Erich ficou famosa na luta-livre pelo empenho que os irmãos treinados pelo pai dedicaram à carreira - uma vida dedicada ao esporte cujo custo é o mote do filme. O clã Von Erich surge em cena como estereótipos sulistas do jeito e do sonho americano: conservadores, devotos à igreja, dedicados ao que julgam lhes ser predestinado, independentemente dos infortúnios sofridos por suas gerações passadas. O roteiro segue o irmão prodígio, Kevin (Efron), enquanto o pai, Jack, reveza entre os filhos para conseguir o que nunca pôde quando jovem: ser o maior lutador dos EUA.

Durkin opta por desenvolver a grandeza das ambições dos Von Erich pelos diálogos nas salas ou na academia, nunca mostrando o real impacto que as vitórias ou títulos têm no cotidiano do americano comum. Assim, aos poucos, a agonia da distância do objetivo imposto pelo pai se torna algo não só expresso no rosto e no corpo dos quatro filhos, mas principalmente na sensação de morbidez que se instala no espectador. Efron, com um ótimo elenco de apoio, brilha como nunca neste retrato do homem dividido pelos deveres profissionais e familiares, sem nunca se exceder da figura reprimida e refém de uma visão imposta pelo pai, vivido também de forma impecável por Holt McCallany.

A composição estética de Garra de Ferro ajuda também na ideia do contraditório que Durkin constrói. A trilha sonora fica entre os hits do rock e do country dos anos 1970 e 1980, e uma melancólica música-tema (de Richard Reed Parry, do Arcade Fire) que ressalta as amarguras dos Von Erich até o ponto final da jornada. Não existem também arenas multiplex ou ginásios megalomaníacos; tudo na fotografia de Mátyás Erdély (que tinha trabalhado com Durkin em O Refúgio) reforça os cômodos, as perucas marcadas, o figurino interiorano e o ambiente quase rural dos personagens. Por mais que às vezes pareça um exercício de diminuir o impacto, tais escolhas deixam em banho-maria a história desenhada nos ringues e nos olhares frágeis dos irmãos.

Em um ano marcado por biografias e contos americanos que se pautam pelo impacto para além de seus personagens, é de se admirar a capacidade que Garra de Ferro tem em fazer isso sem sair da sala de estar dos Von Erich. Durkin monta um conto tocante com ares de tragédias gregas dentro do olhar americano pela busca pela glória, justamente por entender que sua força está na interação familiar e na autoimportância e peculiaridade dos acontecimentos em si.

Nota do Crítico
Ótimo
Garra de Ferro
The Iron Claw
Garra de Ferro
The Iron Claw

Ano: 2023

País: EUA

Direção: Sean Durkin

Elenco: Zac Efron, Jeremy Allen White

Onde assistir:
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