Ana de Armas e Chris Evans em Ghosted (Reprodução)

Créditos da imagem: Ana de Armas e Chris Evans em Ghosted (Reprodução)

Filmes

Crítica

Quem dera Ghosted fosse um filme mecânico - aí, ao menos, ele seria eficiente

Chris Evans estrela um dos longas menos inspirados a sair de Hollywood em muito tempo

Omelete
3 min de leitura
21.04.2023, às 06H00.
Atualizada em 31.08.2023, ÀS 12H26

Em nenhum momento a inadequação absoluta de Ghosted: Sem Resposta como filme fica mais clara do que na primeira meia hora, quando acompanhamos o certinho Cole (Chris Evans) conhecendo e se apaixonando pela impulsiva Sadie (Ana de Armas) durante um primeiro encontro daqueles que só acontece em filme: sem constrangimento da parte de nenhum dos dois, que se abrem irrestritamente um com o outro enquanto emendam passeios e refeições perfeitas uma na outra e resolvem passar a noite juntos. A fantasia romântica tem seu lugar no cinema, mas ela precisa ser vendida com algum tipo de charme na frente ou atrás das câmeras, e simplesmente não é o caso aqui.

Dexter Fletcher, que fez um trabalho encantadoramente criativo em Rocketman, dirige essas primeiras cenas de Ghosted em um modo ainda menos interessante do que o piloto automático. Os diálogos entre Cole e Sadie são filmados e editados sem nenhum senso de ritmo, as locações pouco inspiradas ao redor de Washington D.C. (EUA) são fotografadas sem qualquer rastro de deslumbramento. Enfim, o filme enterra a química escassa que existe entre Chris Evans e Ana de Armas por baixo de camadas e mais camadas de uma mediocridade de estirpe ainda mais pérfida do que o comum. Falo daquele tipo de mediocridade agressiva, que chega a distrair o espectador, ao invés de só suavizar o produto para o mínimo denominador comum.

Pior ainda é que esse segmento inicial de Ghosted se revela bem representativo do modus operandi do filme como um todo, muito embora a trama se afaste rapidamente do terreno da comédia romântica. Isso porque Cole descobre, após passar algum tempo sem notícias de Sadie, que a mulher pela qual ele se apaixonou é uma implacável agente da CIA, temida por criminosos ao redor do mundo. É claro que o nosso protagonista acaba sendo sequestrado por inimigos perigosos de Sadie, e os dois se veem emaranhados em uma trama de espionagem global. Pense em True Lies ou Encontro Explosivo, mas com os gêneros dos personagens invertidos e muito (muito) menos carisma.

Aqui, o habitual arco narrativo do casal que passa de alfinetadas e desafetos para a compreensão mútua e a paixão avassaladora se mistura com as sensibilidades de duas duplas de roteiristas: de Chris McKenna e Erik Sommers (Homem-Aranha: Sem Volta Para Casa, Homem-Formiga e a Vespa), o filme tira a trama de ação com heróis e antagonistas genéricos, sem sombra de consciência política em seu retrato da CIA; de Paul Wernick e Rhett Reese (Deadpool, Zumbilândia), Ghosted herda algumas brincadeiras conceituais espertas - atenção para uma cena cheia de participações especiais - e a vaga teatralidade da caracterização dos coadjuvantes, especialmente o vilão de Adrien Brody e os pais de Cole, vividos com ironia descarada por Amy Sedaris e Tate Donovan.

Para além desses flashes de autoconsciência, o filme só decola mesmo (e nem chega a voar muito longe do chão) em duas cenas de ação, uma no primeiro ato e outra no terceiro. Ambas usam suas locações excêntricas - um ônibus turístico no Marrocos e a estrutura giratória no topo de um arranha-céu de luxo - para criar confrontos físicos espacialmente interessantes, decentemente coreografados e dirigidos com pelo menos um pouco da audácia visual que o diretor Fletcher demonstrou em projetos anteriores. É como se o condutor competente, mas adormecido, de um trem desgovernado subitamente acordasse por um trecho da viagem, fazendo as devidas paradas por algumas estações.

É claro que, depois disso, o condutor volta a dormir profundamente, e talvez seja culpa nossa por não pular fora do trem na primeira oportunidade. De uma forma ou de outra, essa viagem ao mesmo tempo turbulenta e agonizantemente entediante tem um efeito curioso: Ghosted vai te fazer sentir falta dos blockbusters mornos dos grandes estúdios de Hollywood, que ao menos têm a decência de serem matematicamente calculados para criar um entretenimento esquecível. Na falta de qualidades humanas, eles têm as mecânicas - no caso de Ghosted, ficaram faltando as duas.

Nota do Crítico
Ruim
Ghosted: Sem Resposta
Ghosted
Ghosted: Sem Resposta
Ghosted

Ano: 2023

País: EUA

Duração: 116 min

Direção: Dexter Fletcher

Roteiro: Rhett Reese, Chris McKenna, Paul Wernick, Erik Sommers

Elenco: Amy Sedaris, Ana de Armas, Chris Evans, Tate Donovan, Tim Blake Nelson, Adrien Brody, Marwan Kenzari

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