Cena de Hora do Massacre (Reprodução)

Créditos da imagem: Cena de Hora do Massacre (Reprodução)

Filmes

Crítica

Hora do Massacre faz slasher para a geração-Z sem apelar para o satírico

Filme explora neuroses contemporâneas e subverte expectativas do gênero

Omelete
3 min de leitura
18.07.2024, às 10H15.

A durabilidade e o impacto cultural do slasher, entre todos os subgêneros de terror que surgiram e morreram (e ressuscitaram, é claro) com o passar das décadas, é acima de tudo um testamento da sua excelência em cumprir a missão essencial do filme de horror: trazer à tona as paranoias e neuroses do seu tempo. Essas histórias de jovens adultos perseguidos por assassinos que simbolizam os pecados e julgamentos silenciosos do mundo frequentemente se revelam, diante de uma inspeção cuidadosa, teatros extrapolados de brigas geracionais aquecidas ao ponto de ebulição, que transbordam em uma violência catártica e eticamente complicada. Estamos do lado do assassino, ou da final girl? Bom, depende, e esse cabo de guerra é toda a graça do slasher.

Como acontece com todo subgênero, no entanto, as regras do slasher envelheceram, se desgastaram pela repetição, se distorceram diante de sequências, reboots e retcons intermináveis, enfim, viraram motivo de zombaria. Daí que os millennials e a geração-Z conhecem essas histórias de assassino quase exclusivamente como sátiras, caricaturas de si mesmas que comentam mais sobre a fórmula cínica do horror do que sobre o conteúdo que ele mina para causar desconforto - Pânico e Eu Sei o que Vocês Fizeram para os mais velhos, Morte. Morte. Morte. e A Morte te Dá Parabéns para os mais novos. Hora do Massacre está aqui para (tentar) preencher essa lacuna.

Primeiro, o filme trata de reconhecer a rigidez das amarras impostas pelo slasher - e de desatá-las com habilidade surpreendente. A junção virtuosa do roteiro do italiano Alberto Marini (um dos criadores da franquia [Rec], que revitalizou brevemente os filmes de zumbis e o found footage lá no final dos anos 2000) e da direção do trio RKSS (estabelecidos como magos da nostalgia oitentista com Turbo Kid e Verão de 84) faz de Hora do Massacre uma coleção de subversões simples, executadas sem muitas firulas, mas cumulativamente prazerosas: quem usa a máscara são as vítimas, e não o assassino; a final girl cresce de coadjuvante a protagonista no terceiro ato e termina nem tão final girl assim; a normalidade tranquila do epílogo é quebrada não por uma ressurreição chocante, mas por uma piada violenta e cruel, e por aí vai.

Melhor ainda, todas essas mudanças de marcha não são gratuitas - elas estão aqui para assegurar que o espectador esteja de guarda baixa para receber a provocação afiada que o filme esconde na manga. Ou ok, talvez ele não esconda tão bem assim: a trama acompanha um grupo de ativistas ambientais que invade uma loja de departamentos para vandalizá-la durante a noite, como protesto pelo uso de madeiras de lei nos móveis vendidos por lá. Eles são confrontados, no entanto, por um segurança noturno que encarna o tipo machão inepto que virou estereótipo dos incels e terroristas de extrema-direita, com sua obsessão insegura pela caça e pela masculinidade primitiva explodindo em desdém pela geração que borra as linhas que ele precisa tão desesperadamente cristalinas para se sentir bem consigo mesmo.

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O antagonista é também, no entanto, só mais uma engrenagem na enorme máquina capitalista que os jovens ativistas tanto anseiam em desmontar. A sua relação contenciosa com o irmão alcoólatra, que o acompanha no trabalho, a necessidade de manter o emprego, a precariedade e o desespero para reverter o estrago causado pelos protagonistas… bom, nada disso é monstruoso, na verdade. Como todo bom slasher, Hora do Massacre mina sua tensão do cruzamento de moralidades dentro de um sistema que não as suporta como possíveis. Para o mundo ao redor desses personagens que guerreiam pela sobrevivência, afinal, todos eles são igualmente descartáveis - e, apesar de todo o sangue derramado, nada realmente muda no final.

Sintoma de uma contemporaneidade terminalmente acostumada à violência e ao seu ciclo interminável, o slasher sempre funcionou como catarse e alfinetada. Sem inventar demais, Hora do Massacre o resgata em ambas as potencialidades.

Nota do Crítico
Ótimo

Hora do Massacre

Wake Up

Ano: 2023

País: França/Canadá

Duração: 83 min

Direção: RKSS

Roteiro: Alberto Marini

Elenco: Benny O. Arthur , Turlough Convery , Tom Gould , Jacqueline Moré

Onde assistir:
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