Dentre todas as incertezas para 2021, uma coisa é certa: será um ano de várias produções feitas durante a quarentena. Quando ficou claro que a pandemia de Covid-19 não seria algo passageiro, muitos cineastas aprenderam a se adaptar com projetos menores. Um dos primeiros hits do tipo foi, sem dúvidas, o terror Host (ou Cuidado Com Quem Chama), lançado lá fora pelo Shudder logo em julho de 2020. Chegando apenas em dezembro ao Brasil nas plataformas de VOD, e só em fevereiro à Netflix, nem mesmo os meses de atraso foram capazes de diminuir o impacto de sua inventividade e diversão macabra.
Gravado inteiramente à distância, o filme de Rob Savage traz ambientação bastante comum para qualquer um que não vê amigos ou família há meses: um grupo de amigas entediadas numa chamada de Zoom. Tentando trazer alguma novidade no meio da quarentena, elas decidem tentar uma sessão espírita virtual, mas sem levar nada muito a sério. Isso rapidamente se torna um problema quando percebem que uma entidade se manifestou do além, e que tem intenções perversas para quem lhe perturbou.
Com apenas 55 minutos de duração, Host é extremamente sucinto, e não desperdiça um segundo sequer. Ainda que se apoie totalmente no conceito de “possessão demoníaca digital”, dedica sua abertura para oferecer um mínimo desenvolvimento das personagens. Saber mais sobre a relação interpessoal das amigas entediadas, e como cada uma lida com situações aterrorizantes, só enriquece a virada sombria.
Não há como negar que os sustos são o verdadeiro foco do projeto. De certa forma, é possível dizer que o filme é baseado em fatos, já que o diretor teve essa ideia após realmente assustar suas amigas entediadas numa chamada de Zoom. As vítimas da pegadinha viraram o elenco do projeto, e é visível que a produção - mesmo que à distância - partiu da vontade de um grupo de colegas se divertirem um pouco.
I’ve been hearing strange noises from my attic, so I called a few friends and went to investigate… pic.twitter.com/CxmJAf44ob
— Rob Savage (@DirRobSavage) April 21, 2020
Todas as situações horripilantes de Host são altamente inventivas. Cada personagem ganha um pouco dos holofotes com a entidade focando uma por vez. Os ataques sobrenaturais sabem explorar muito bem os cenários, as personalidades e as relações de cada uma. Mesmo elementos que parecem encheção de linguiça no começo são brutalmente aproveitados no final, de forma que o média-metragem conclui sem pontas soltas, com sacadas bastante divertidas e surpreendentemente sangrentas.
Após Amizade Desfeita e Buscando, é uma das obras que melhor soube usar a noção de found footage via tela de computador, constantemente criando tensão por meio de interferências na imagem, problemas na conexão e tudo aquilo que fica fora do limitado enquadramento de webcams comuns.
Host é um projeto absurdamente simples e de baixo custo que soube tirar o máximo proveito de uma premissa sagaz. Mesmo com pouco, o filme impressiona, aterroriza e entende muito bem como cutucar a ferida deixada pela ansiedade coletiva trazida por meses de isolamento sem data para acabar. Mesmo com as vacinas no horizonte, ainda há incontáveis chamadas virtuais na esperança de reconquistar um pouco de sanidade para aguentar a reta final. O grande triunfo de Host, um projeto experimental de gente comum que já não aguenta mais ficar em casa, é levantar a ideia de que uma dessas reuniões pode ganhar ares sombrios num piscar de olhos. E que tudo fica mais complicado quando se está sozinho, trancado.
Ano: 2020
País: Reino Unido
Classificação: 16 anos
Duração: 55 min
Direção: Rob Savage
Roteiro: Jed Shepherd, Gemma Hurley, Rob Savage
Elenco: Radina Drandova, Emma Louise Webb, Jemma Moore, Haley Bishop, Caroline Ward