Emma Mackey em Hot Milk (Reprodução)

Créditos da imagem: Emma Mackey em Hot Milk (Reprodução)

Filmes

Crítica

Ainda que subdesenvolvido, Hot Milk deixa impressão forte no espectador

Emma Mackey e Fiona Shaw fazem dueto sólido que eleva o filme de Rebecca Lenkiewicz

Omelete
4 min de leitura
02.07.2025, às 06H00.

Embora tenha sido vendido em cima da perspectiva de um affair quente entre as personagens de Emma Mackey (Sex Education) e Vicky Krieps (Trama Fantasma), duas figuras marcantes no imaginário pop cinéfilo contemporâneo, Hot Milk é muito mais um filme de mãe-e-filha do que um romance lésbico. Adaptando o livro de Deborah Levy, a dramaturga e roteirista Rebecca Lenkiewicz (Ida, Desobediência) centra o seu longa firmemente na relação tempestuosa entre a jovem Sofia (Mackey) e sua mãe, Rose (Fiona Shaw), mulher fragilizada por uma doença misteriosa, que viaja à costa da Espanha para tentar um tratamento experimental com o Dr. Gomez (Vincent Perez). Acometida por intensas dores e incapaz de andar na maior parte do tempo, Rose conta com a filha para tudo - e seu temperamento instável, exigente, não facilita uma situação que já não é ideal.

A grande força de Hot Milk é o dueto entre Mackey e Shaw. Ambas encaram aqui personagens que poderiam facilmente alienar o público, mas se aproveitam de um texto muscular para criar mulheres que se fazem entender na sua complexidade. O nervosismo de Sofia, sua inquietude dentro das limitações impostas pela situação da mãe, vem à tona na fisicalidade quebradiça de Mackey, que parece ao mesmo tempo prestes a ser levada pela brisa costeira e fincada no chão com determinação insuplantável. Enquanto isso, de alguma forma, Shaw alcança o feito de dançar ao redor da resistência de parceira de cena, mesmo que permaneça confinada a uma cadeira de rodas na maior parte da metragem. A grande atriz britânica faz de Rose um constante teste para Sofia, mas colore também as alfinetadas que ela dá na filha com as tintas amargas de um ressentimento nunca dito.

Lenkiewicz, que é cria do teatro e faz aqui sua primeira investida na direção de longas-metragens, observa o duelo entre suas protagonistas com o interesse agudo que tantos cineastas advindos do palco também demonstraram com as atuações de seus elencos (pense na câmera questionadora de Mike Nichols, Kenneth Lonergan, Sam Mendes). Sóbria, mas nunca entediada com o próprio material, ela brilha tanto nessas encenações íntimas entre as protagonistas quanto nos momentos em que a frustração de Sofia transborda em caminhadas e escapadas pelas praias espanholas - como Aftersun ou A Filha Perdida, Hot Milk é um intenso drama psicológico que faz do calor, areia e sal do litoral um elemento de sonho febril para temperar sua narrativa, o território difuso e indefinido das “férias” usado para sublinhar uma situação dramática severa.

É justamente aí que entra em cena Ingrid, personagem de Vicky Krieps, uma estranha misteriosa que aborda Sofia na praia durante uma tarde preguiçosa e aos poucos vai enredando a jovem em uma teia de sexo, ciúmes e filosofia barata. Não há dúvidas de que Krieps é excelente em interpretar a sedutora de fala mansa e segredos bem guardados - ela desliza por Hot Milk com elegância lânguida, echarpes voando ao vento intenso da costa espanhola, e encontra o ponto de inflexão perfeito para fazer de cada reversão de afetos de sua Ingrid um ato de traição mais humano, ainda que não menos doloroso. O vai-e-vem dessa relação existe, no entanto, para desestabilizar Sofia, e pouco mais além disso. Hot Milk ensaia fazer paralelos poéticos entre Ingrid e Rose, mas a conexão é tênue e negligenciável, como muito de seu tecido dramático.

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No terceiro ato, essa fragilidade fica mais evidente, e qualquer feitiço que o filme tenha jogado sobre o espectador se dissipa diante da realidade de um drama francamente subdesenvolvido. Conforme Sofia é obrigada a escolher entre a mãe que não quer se curar e a amante que não quer assumi-la, fica claro que a protagonista é pouco mais do que a ponte entre os dois filmes que dividem o universo de Hot Milk, e quando Lenkiewicz precisa eleger uma dessas histórias para conduzir ao seu clímax, ela o faz com pouco impacto, pouca atenção às ramificações dramáticas dos seus “finalmentes” - a revelação final do filme passa incólume por ele mesmo, uma grande reviravolta que não tem espaço para respirar e existir dentro de sua própria narrativa.

Mas Hot Milk ainda tem Mackey e Shaw, é claro. Até o último segundo, as duas se mostram entregues às suas personagens, à dinâmica perturbadora e angustiante que existe entre elas, de uma forma que o restante do filme parece hesitante em se entregar. Dores de crescimento para uma diretora estreante, talvez - Lenkiewicz, aqui, fica muito mais na promessa, na força das primeiras impressões, do que na solidez necessária para fazer um grande filme.

Nota do Crítico
Bom

Hot Milk

Ano: 2025

País: Austrália, Grécia, Reino Unido

Duração: 93 min

Direção: Rebecca Lenkiewicz

Roteiro: Rebecca Lenkiewicz

Elenco: Vicky Krieps , Emma Mackey , Fiona Shaw , Vincent Pérez

Onde assistir:
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Comentários (1)

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Familícia Bozonaro
há 5 dias

leitinho quente

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