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A Sombra do Andarilho | Crítica

<i>A sombra do andarilho</i> - Festival do Rio

23.09.2005, às 00H00.
Atualizada em 05.11.2016, ÀS 16H05

A sombra do andarilho
La sombra del caminante

Colombia, 2004
Drama, 90 min.

Direção: Ciro Guerra
Roteiro: Ciro Guerra

Elenco: Lowin Allende, César Badillo, Julián Díaz, Andrés Gaitán, Diego Manzano, Ignacio Prieto

Imagine uma mistura de Beckett, Godot e David Lynch. Nas mãos de um grande diretor, isso poderia render algum tipo de clássico do cinema alternativo. A sombra do andarilho (La sombra del caminante, Colômbia, 2004) possui essa mistura inusitada, mas a ambição do filme acaba se perdendo em um roteiro pouco verossímil e na opção em atirar para todos os lados, acertando poucos alvos.

Na trama, Mañe (Cesar Badillo) passa por uma difícil situação financeira. Ele perdeu uma perna, está desempregado e não consegue pagar seu aluguel. Sua senhoria, Sra. Marelvis (Ines Prieto), é complacente com a condição do protagonista. Diferentemente de seu irmão, um ex-sargento do exército (Lowin Allende), tirânico e bêbado, que vive o perseguindo.

Enquanto percorre as ruas tentando sobreviver, Mañe conhece um estranho homem (Ignacio Prieto), que se dedica à mais estranha das profissões: carregar pessoas com uma cadeira presa nas costas até o centro de Bogotá, cobrando 500 pesos. Surge entre os dois personagens uma amizade incomum, tornando suas vidas mais toleráveis e dando a eles uma oportunidade de redenção. E é a partir dessa estranha e cômica relação que a história - escrita e dirigida por Ciro Guerra - começa a se delinear melhor.

Entretanto, mesmo amparada pela ótima atuação dos dois protagonistas, essa casualidade do encontro incomoda pela falta de plausibilidade no roteiro. É como se tudo se encaixasse perfeitamente demais. E tal excesso acaba estragando a força da narrativa. Não é difícil notar que a história dos dois serve como metáfora para atual situação da Colômbia - mais um país sul-americano ainda assombrado pela ditadura militar. Uma nação com sérios problemas econômicos, na qual o trabalhador comum se encontra numa terra sem oportunidades. Tanto que a única saída é oferecer algum tipo de serviço esdrúxulo. Se parece esquisito ganhar dinheiro carregando gente com uma cadeira presa nas costas, imagine o quanto Mañe pode faturar vendendo origamis.

A escolha de filmar em preto e branco ressalta as intenções do diretor. Esteticamente, o filme alcança seus objetivos, criando um visual atemporal em que passado e futuro andam lado a lado. Contrastando com essa idéia, o título do filme serve para nos prender ao momento atual da Colômbia e faz alusão à massa de pessoas "sem face" que vive em Bogotá, tentando sobreviver de alguma forma. O diretor nos apresenta essa realidade crua e nua com uma série de cenas mostrando esses cidadãos trabalhando nas ruas como camelôs. E nos faz pensar que a nossa própria situação não está muito diferente de nossos vizinhos latinos.

Essa introdução de uma abordagem mais social acaba sendo também uma bola fora, pois Guerra não se decide se quer mostrar as dificuldades econômicas de seu povo, o acerto de contas com o passado militar ou explorar o absurdo da vida numa relação tão pouco convencional para os padrões vigentes. O ritmo excessivamente lento acaba aplicando um golpe de misericórdia nas ótimas intenções e premissas do diretor. Ainda não é dessa vez que Guerra conseguiu construir sua primeira obra-prima.

Nota do Crítico
Bom
A Sombra do Andarilho
La Sombra del Caminante
A Sombra do Andarilho
La Sombra del Caminante

Ano: 2004

País: Colômbia

Classificação: 14 anos

Duração: 90 min

Direção: Ciro Guerra

Onde assistir:
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