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A indústria do surfe está longe de ser simplória. Vende um estilo de vida desapegado - mesmo as celebridades do meio defendem o esporte como uma paixão e até um estado de espírito - mas gera muito dinheiro em roupas, artigos, publicações, turismo, atitude. Os vídeos de surfe são parte representativa desse showbiz particular. Fabricados às dezenas todos os anos, tornaram-se essenciais para perpetuar a cultura. Mas poucos transbordam o nicho e chegam às salas de cinema.
O brasileiro Surf Adventures - O Filme (2002), de Arthur Fontes, é uma dessas raridades recentes. Agora Billabong odyssey - A busca pela maior onda do mundo (2003), documentário de Philip Bonston, procura o seu espaço. Mas não espere a mesma abrangência ou pertinência histórica de um The endless summer (1966), clássico de Bruce Brown que abriu a expansão da cena californiana. O que temos aqui é um produto para iniciados, com o seu vocabulário peculiar e a sua linguagem manjada. Mais do que isso, é um produto para experts, já que o foco se concentra nas ondas assassinas que poucos ousam "dropar".
É praticamente impossível entrar nessas ondas com mais de dez metros só na base da braçada. Aí surgiu, nos anos 1990, a modalidade two-in - termo em inglês para "rebocar". Um jet ski conduz o surfista, larga-o já no meio da inclinação, escapa da arrebentação e fica à espreita para o resgate no caso de uma "vaca", o popular "caldo". Esporte tradicionalmente individualista, o surfe viu nascer um pacto de companheirismo. Diante de um monstro de 25 metros de altura, que pode arrastar um homem por duzentos metros e segurá-lo por minutos debaixo dágua, a segurança de um depende daquele que o escolta.
O projeto Billabong Odyssey - que por si só já veicula o nome de uma grife - reúne astros norte-americanos do two-in. O pioneiro Ken Bradshaw com os seus 49 anos e o salva-vidas havaiano Brian Keaulana encabeçam o time que roda o mundo, durante um ano, atrás das maiores ondas. Alta tecnologia meteorológica os leva de Mavericks e Cortes Bank, pontos privilegiados na Califórnia, à ilha mexicana de Todos Santos, e de lá à Espanha, à França e ao Tahiti. Como parada final, o célebre point de Jaws, no Havaí, epicentro bravio das vagas mais temidas do mundo.
Repare que os nomes dos brasileiros Carlos Burle e Eraldo Gueiros se destacam nos materiais de divulgação da distribuidora Europa. Mas não espere protagonistas. O campeão mundial Burle surge - brevemente - no ingrato papel de rival de Mike Parsons, um dos heróis da odisséia, na tensa final da competição em Jaws.
Aliás, essa vocação auto-indulgente, que endeusa os corajosos e cobre as suas frases espirituosas com música dramática, poderia ser atenuada. Seguir o modelo despojado de um Dogtown and Z-Boys (de Stacy Peralta, 2001), por exemplo, cairia muito bem no lugar de toda essa solenidade. Mais ousadia no roteiro seria igualmente benéfico. Não é difícil: um instante de montagem criativa no filme, quando a espetacular onda da cena inicial é contextualizada no fim, já mostra que os vídeos de surfe ainda podem melhorar para vingar no cinema e atrair um público novo.
Billabong odyssey - A busca pela maior onda do mundo
Billabong Odyssey
Ano: 2003
Lançamento: 25.03.2004
Gênero: Documentário
País: EUA
Classificação: LIVRE
Duração: 88 min
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