Encontro de Amor | Crítica

Trailer Encontro de amor Maid in Manhattan EUA, 2002 - 105 min. Comédia romântica Direção: Wayne Wang Roteiro:John Hughes, Kevin Wade Elenco: Jennifer Lopez, Ralph Fiennes, Stanley Tucci, Tyler Posey, Frances Conroy, Chris Eigeman, Amy Sedaris, Marissa Matrone, Priscilla Lopez, Bob Hoskins, Natasha Richardson...

Cinderela era uma moça meiga, a sua história era uma graça, mas a gata-borralheira prestou um irreparável desserviço à humanidade. No dia em que a menina bastarda e castigada arrumou um príncipe e mudou de vida, abriu-se um perigoso retrospecto - e hoje, toda sorte de comédia romântica feita em Hollywood abusa do recurso. Quanto mais famosa for a atriz, mais fundo vai o fetiche da pobreza. A reciclagem contempla desde scort-girls/prostitutas (Audrey Hepburn em Bonequinha de Luxo e Julia Roberts em Uma Linda Mulher) e garçonetes (Mariah Carey em Glitter) até obesas mórbidas (Gwyneth Paltrow em O Amor É Cego) e militantes maltrapilhas (Sandra Bullock em Amor à Segunda Vista).

Jennifer Lopez já tinha sido uma agente matrimonial em O Casamento dos meus sonhos (The Wedding Planner, de Adam Shankman, 2001). Não contente, busca a felicidade também na forma de uma arrumadeira, em Encontro de amor (Maid in Manhattan, 2002), do chinês Wayne Wang. Na trama, ela vive Marisa Ventura, mãe solteira que sonha em chegar a gerente do hotel em que trabalha há anos. Quando, acidentalmente, acaba confundida com uma hóspede ricaça pelo galante candidato a Senador Chris Marshall (Ralph Fiennes), o seu coração balança, assim como o seu emprego.

Resumindo, uma mistura das duas fórmulas românticas mais desprezíveis: o do amor-impossível-entre-pessoas-de-esferas-sociais-distintas, e o da escolha-entre-carreira-ou-vida-afetiva.

O filme é um quebra-cabeças... no mau sentido. Os clichês são como peças que se encaixam, num esquema mais do que previsível. Estão ali todos os estereótipos: jornalistas são ignorantes como paparazzi, assessores políticos são babás burlescas, negros são bonzinhos, loiras são burras. Sobra até para os franceses, personificados na figura de duas velhas gordas cleptomaníacas.

De certo modo, incomoda também a necessidade quase fisiológica de levantar a bola da Nova York pós-11/9. Tem desde uma infinidade de tomadas aéreas até aquela passadinha obrigatória pelo Central Park. Repare: os únicos três beijos do casal principal acontecem em frente a ícones da cidade. O último deles, em frente a um Empire State Building pintado em um poster. Aliás, o título original oferece um trocadilho que serve exatamente a esse propósito. Maid in Manhattan, Made in Manhattan... entendeu?

Mas tudo isso seria até certo ponto irrelevante - nenhuma comédia romântica fica muito acima disso - se a química amorosa rolasse entre os protagonistas. Acontece que o ótimo Fiennes não parece à vontade, e J-Lo também não aparenta curtir os amassos teatrais. O casal simplesmente não tem nada em comum. A cena mais "quente" dura pouco mais de um instante e é, no mínimo, constrangedora. Barbies e Bobs beijam melhor.

Frases feitas e uma certa sociólogia de butique terminam por enterrar a película. O co-roteirista John Hughes, de clássicos das comédias adolescentes como Gatinhas e gatões (Sixteen Candles), Clube dos 5 (The Breakfast Club) e Mulher Nota 1000 (Weird Science), certamente já viveu dias melhores.