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Irmãos de Fé | Crítica

<i>Irmãos de fé</i>

09.09.2004, às 00H00.
Atualizada em 21.09.2014, ÀS 13H16

Irmãos de fé
Brasil,
2004
Drama/Religioso - 105 min.

Direção: Moacyr Góes
Roteiro:
David França Mendes, André Chevitarese, Marcos Ribas de Faria, Moacyr Góes

Elenco: Padre Marcelo Rossi, Thiago Lacerda, Othon Bastos, José Dumont, Gustavo Ottoni, Rodrigo Hilbert, Leon Góes, Flávia Guimarães, Francisca Queiroz, Malu Valle

Maria, mãe do filho de Deus (2003), de Moacyr Góes, relembrava a Crucificação pelos olhos contemporâneos de uma criança. Por trás dessa premissa havia a intenção de defender a padroeira dos católicos brasileiros - e, por extensão, toda a instituição - contra o avanço evangélico no país.

O segundo filme dos carismáticos personificados pelo Padre Marcelo Rossi, novamente dirigido por Góes, volta a contrapor uma passagem bíblica e o drama de um jovem nos dias atuais. Mas, se a receita é a mesma, a missão torna-se mais ambiciosa do que uma mera rixa de credos. Irmãos de fé (2004) fala aos iniciados, mas chega mesmo para tentar catequizar quem ainda não se deixou tocar pela Santa Palavra.

Para isso, Padre Marcelo busca a trajetória do mais famoso dos convertidos, São Paulo. Antes de sofrer uma intervenção divina um tanto atroz, o judeu Saulo de Tarso (Thiago Lacerda) perseguia os seguidores de Jesus a mando de Herodes. Julgava-os hereges até o momento em que a luz lhe mostra a verdade. Transformado, muda o seu nome para Paulo e aceita a missão de pregar para todos os povos, sem distinção entre gentios e hebreus - atitude que desagrada outro irmão de fé, o apóstolo Thiago (José Dumont), para quem os alicerces da nova igreja devem ser fincados entre os judeus.

Dois mil anos depois, outro Paulo (Micael Borges) também atravessa uma provação. Preso durante uma tentativa frustrada de sequestro-relâmpago, vai parar na Febem. Procurado pela irmã (Sabrina Rosa) do menino, Padre Marcelo vai à prisão com a intenção de ajudá-lo. No início, Paulo afasta a Bíblia. Mas não é preciso muito esforço para prever que, aos poucos, os versículos indicados pelo padre cativarão o detento.

Quem conhece as parcerias do produtor Diler Trindade com o diretor Góes já espera esse tipo de simplismo. Não se pode exigir muito das obras, realizadas a toque de caixa, com roteiro primário e estrutura idem. As belas paisagens que servem de locação não compensam a pobreza da cenografia, que vai de templos de isopor a uma Febem limpinha, organizada - inverossímil, enfim. A trilha sonora, igualmente canhestra, abusa dos temas de Filmes B nos instantes de tensão, combina ritmos árabes com batidas eletrônicas nos momentos de travessia do deserto. E, claro, Padre Marcelo surge na película sem vergonha da sua inépcia para a atuação.

Até aí dá-se um desconto. Já que o filme invariavelmente arrecadará muito mais do que custou, digamos que Diler é "café-com-leite". Mas neste caso a precariedade não é periférica, não se limita a aspectos técnicos e dramatúrgicos. Atinge também aquilo que é vital a essa espécie de "missa filmada": a palavra.

Teoricamente irretocáveis, revistos com a supervisão teológica de Dom Fernando Figueiredo, os diálogos e os discursos esbarram ora no fastio, ora no despropósito. São fastidiosos na medida em que Paulo prega, fala, discute até a exaustão, enquanto não há ação suficiente para equilibrar o falatório. As cenas do menino Paulo na Febem são emblemáticas. Em uma delas, o Padre Marcelo entra na cela mudo, passa a mão na cabeça do menino e sai calado. Em seguida, o Paulo bíblico gasta o verbo em mais uma sessão de oratória.

E são despropositados quando o discurso dá lugar ao dispensável bate-papo. Em certo momento, Paulo conversa com os gregos de Antioquia e explica as regras do judaísmo. Fala do jejum, da proibição de comer carne de porco - e desconversa jocosamente na hora de citar a circuncisão. Em seguida, Teodora (Francisca Queiroz) se manifesta contra a pregação na hora da refeição: "Tudo bem jejuar, mas nós, que somos pessoas NORMAIS, estamos com fome e vamos comer". Dizer que Irmãos de fé se revela então anti-semita seria superestimar um roteiro que, no fundo, não é mais do que atabalhoado.

Se a intenção aqui é arrebanhar novos fiéis, a produção só perde em extravagância para o maluco da maratona, o padre irlandês que ataca em nome de Deus.

Nota do Crítico
Ruim
Irmãos de Fé
Irmãos de Fé
Irmãos de Fé
Irmãos de Fé

Ano: 2004

País: Brasil

Classificação: LIVRE

Duração: 105 min

Direção: Moacyr Góes

Elenco: Thiago Lacerda, Othon Bastos, Phellipe Haagensen, Elias Andreato

Onde assistir:
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