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O fenômeno Lara Croft nasceu em 1995, durante uma reunião criativa da Core Design. A empresa, desconhecida até então, estava disposta a revolucionar o mercado dos videogames, criando um jogo inusitado, que misturasse gêneros e fosse diferente do padrão vigente na época: heróis machões, musculosos e armados até os dentes.
Um ano mais tarde, chegava às lojas Tomb Raider, game protagonizado por uma curvilínea heroína, construída com extremo capricho. Lara Croft, uma aventureira nascida no seio da nobreza britânica, misturava a ação arqueológica da série Indiana Jones com os contornos de Pamela Anderson na série Baywatch. A inusitada combinação era temperada com um traje icônico: shortinho, top, botinhas, duas pistolas, trança e os indefectíveis óculos escuros redondinhos.
Alavancado pela internet, que começava a disseminar-se mundialmente, o sucesso foi imediato. Na época, começaram a surgir sites de fãs, que, além de dicas do jogo, ofereciam imagens da heroína nua, tornando-a a primeira - e a maior - musa digital da história. Pouco tempo depois, Lara já estava estampada em capas de revistas e era convidada especial da Pop Mart Tour, da banda irlandesa U2. Enfim, formada apenas de zeros e uns, a protagonista de Tomb Raider adquiriu status de celebridade.
Consagração nas telas
Depois de meia-dúzia de continuações nos games (hoje em dia já são oito), a consagração máxima da personagem veio em 2001, com Lara Croft: Tomb Raider (idem, de Simon West, 2001), filme estrelado pela belíssima Angelina Jolie. A produção foi inicialmente bem recebida nos cinemas, mas rapidamente caiu nas bilheterias. Culpa de um roteiro fraco, dependente demais da ação e com elementos sobrenaturais exagerados. Apesar disso, fez 275 milhões de dólares mundialmente, lucro suficiente para que um segundo filme fosse planejado.
As críticas recebidas pelo primeiro filme acabaram influenciando também os games. Os jogadores começaram a reclamar da mesmice dos novos jogos, que não apresentavam inovações técnicas ou desafios diferenciados. Seria necessário um excelente novo produto para salvar a franquia.
A origem da vida: o fim
Em 2003, os desenvolvedores tentaram outra vez. Lara Croft Tomb Raider: The Angel of Darkness, a nova aventura da série nos games, chegou às lojas 30 dias antes do novo filme: Lara Croft Tomb Raider: A origem da vida (Lara Croft Tomb Raider: The Cradle of Life).
Depois das entusiasmadas declarações de Jolie, que disse que só voltaria à série se o roteiro dessa vez fosse realmente bom, parecia que Tomb Raider finalmente conseguiria estabelecer-se como uma aventura cinematográfia de nível. Mas a própria atriz provou que suas declarações não deviam ser levadas muito a sério, quando mostrou-se muito mais preocupada com o sumiço dos seus mamilos no pôster do filme do que com a qualidade da produção, que repete absolutamente todos os erros da primeira aventura nas telonas.
No filme, a arqueóloga e aventureira descobre num templo submerso, em meio a tubarões, uma misteriosa esfera que contém um mapa para a Caixa de Pandora. Porém, ao perder o globo para Chen Lo (Simon Yam), o líder de um grupo da máfia chinesa, Lara precisa impedir que o criminoso negocie o artefato com um terrorista chamado Jonathan Reiss (Ciarán Hinds). Com a esfera em mãos, o inescrupuloso vilão pretende se apoderar da mítica Caixa - que contém todos os males da humanidade - e vendê-la como a arma do Juízo Final. Para tentar deter tudo isso, a heroína terá a ajuda de um antigo namorado, o ex-militar britânico Terry Sheridan (Gerard Butler).
Apesar do alarde publicitário sobre os dois novos produtos, a decepção foi dupla. O jogo recebeu uma medíocre nota 5 das principais publicações especializadas e o filme, que também foi massacrado pela imprensa, amargou um enorme fracasso de bilheteria no mercado norte-americano.
A ação de A origem da vida seria novamente o único fator positivo da fita, se o mercado já não estivesse saturado o suficiente de filmes com muita pancadaria e pouco conteúdo. A investigação arqueológica é mais uma vez tratada com ares de folheto de agência de turismo. Lara corre o mundo freneticamente - turbinada pela inquieta mão do diretor Jan de Bont (Velocidade Máxima e Twister), mas, diferente de um Indiana Jones, não mergulha nos mistérios de culturas alheias. Aliás, como arqueóloga, ela parece um macaco numa loja de cristais. Basta dizer que em determinada cena, ela destrói sem pudores um exército inteiro de raríssimos soldados de terracota, aqueles mesmos mostrados na exposição Guerreiros de Xi´an e os Tesouros da Cidade Proibida, que passou recentemente por São Paulo.
Um triste fim para um ícone da cultura pop tão memorável.