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"Olhe bem para a minha boca, como é minúscula"
Assim como a frase acima, tudo o que Lila diz tem o objetivo de chamar a atenção do interlocutor para o seu corpo e sua beleza. Na seqüência inicial, imagens apenas do corpo de uma menina num balanço ao som de sua voz adolescente, um tanto rouca, não deixam dúvida: estamos diante da Lolita da vez.
Esta certeza, no entanto, dura pouco mais que os primeiros minutos. À medida que o espectador é apresentado às pessoas e aos lugares que cercam aquele parque infantil de bairro, cresce a dificuldade de entender quem, de verdade, é aquela garota loira (vivida pela belíssima Vahina Giocante, conhecida atriz adolescente de produções da TV francesa).
É nítida a sensação de retorno à adolescência e à confusão de sentimentos provocada por uma primeira paixão. Já não é possível vivenciar a história sem encará-la segundo os sentimentos pessoais do narrador, Chimo. Nas próximas duas horas, é neste garoto de origem árabe que nunca deixou o bairro do subúrbio de Marselha, onde vive cercado de amigos sem perspectiva que a audiência irá se converter.
O mérito de tal conversão não é exclusivo da excelente interpretação do iniciante Mohammed Khouas. A competência do diretor, Ziad Doueiri, no enquadramento e na iluminação de cada cena merece destaque.
Em seu segundo longa, este libanês radicado na França teve uma escola invejável: foi assistente de câmera de ninguém menos que Quentin Tarantino em Cães de Aluguel, Pulp Fiction e Jackie Brown. Talvez venha daí a sua capacidade de lapidar personagens e de moldar ambientes com capacidade quase infinita de incomodar.
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Chimo e a falta de atitude: aos 19 anos, age como um menino de 14. É extremamente inocente e sua reticência, tanto em se impor diante dos amigos delinqüentes quanto em assumir o amor por Lila, chega a irritar.
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A ambigüidade de Mouloud (o também estreante Karim Ben Haddou): líder do grupo de amigos de Chimo, ele comanda pequenos assaltos sem dividir os lucros com os comparsas, os obriga a transar com uma mesma prostituta decadente somente depois que ele se dá por satisfeito e, ao mesmo tempo, implora pela atenção dos familiares ausentes.
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Lila e a tristeza que permeia sua existência: a começar pela tia gorda religiosa de fachada, chantagista, eternamente enfiada numa camisola, de inclinações lésbicas e colecionadora de HQs pornôs , passando por sua casa - excessivamente decorada com uma mistura de santos, luminárias de bordel, biscuits e poltronas de cetim vermelho florido - e, finalmente, por sua insistência em fabular experiências para se fazer interessante.
Ainda que a história seja baseada num livro homônimo e de autor apócrifo (que fez imenso sucesso na França em meados da década de 90), são as adaptações de Doueiri que conferem força a esta história feita de pouquíssimos fatos. Ao transportar a ação dos subúrbios de Paris para um gueto árabe da pequena Marselha e incorporar o recrudescimento dos preconceitos pós-11 de setembro, o diretor confere complexidade ao que poderia resultar em mais uma crônica de amor adolescente recheada de clichês.
A sua capacidade de revelar os vários matizes de cada personalidade nos leva a perceber que, por trás do erotismo escancarado da protagonista, vive uma criança assustada que repete palavras cujo sentido desconhece. A chave para apreciar a dura beleza deste filme é ver um pedido de amor incondicional em cada uma das muitas palavras que Lila diz.
Lila Diz
Lila dit ça
Ano: 2004
Lançamento: 26.01.2005
Gênero: Drama
País: França
Classificação: 16 anos
Duração: 91 min
Direção: Ziad Doueiri
Roteiro: Ziad Doueiri
Elenco: Vahina Giocante , Moa Khouas
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