Filmes

Crítica

Lugares Comuns | Crítica

<i>Lugares comuns</i>

01.07.2004, às 00H00.
Atualizada em 03.11.2016, ÀS 20H04

Lugares Comuns
Lugares Comunes
, 2003
Espanha/Argentina
Drama - 110 min.

Direção: Adolfo Aristarain
Roteiro:
Adolfo Aristarain, Lorenzo F. Aristarain (livro)

Elenco: Federico Luppi, Mercedes Sampietro, Arturo Puig, Carlos Santamaría, Valentina Bassi, María Fiorentino, Claudio Rissi, Osvaldo Santoro, José Soriano

Trama argentina fala do amor na meia idade e valoriza sentimentos em meio à ruína econômica do país. Pensou em O Filho da noiva (El Hijo de la novia, de Juan José Campanella, 2001)? Pois o cinema portenho já mostrou que pode muito mais.

O filme em questão, dirigido por Adolfo Aristarain, se chama Lugares comuns (Lugares comunes, 2002), e a sua munição é ainda maior. Comove secamente, sem partir para o sentimentalismo, convence como crônica e se aprofunda ainda mais nas questões sociais do que o campeão de bilheterias de Campanella.

Pilar do cinema argentino desde a sua estréia como diretor em 1978, Aristarain, sessenta anos completos em 2003, faz do seu décimo filme um manifesto. Baseado no romance El Renacimiento do seu primo Lorenzo F. Aristarain, dá o seu parecer sobre a falência nacional com o habitual sarcasmo e o inconformismo de um pensador de esquerda. Para tanto, faz do protagonista da trama, o professor de Letras Fernando Robles (Federico Luppi, colaborador fiel do diretor), um legítimo alter-ego.

Na história, o professor Fernando acaba de ser aposentado na faculdade por limite de idade. Para o seu azar, e da sua mulher Liliana (Mercedes Sampietro, esposa de Luppi na vida real), a crise lhe tira a expectativa de uma remuneração razoável e de um sustento tranquilo. Para espairecer, o casal viaja a Madri em férias e aproveita para visitar o filho Pedro (Carlos Santamaría), que adotou a Espanha como casa.

Fernando e Liliana já moraram em Madri, durante o exílio em pleno regime militar. Agora, Fernando não aceita a postura do filho. Critica-o por ter abandonado a Argentina democrática de livre vontade, por ter escolhido uma carreira bem paga em detrimento de verdadeiras conquistas.

Pai e filho se desentendem. De volta a Buenos Aires, Fernando e Liliana percebem que a situação pede sacrifícios. Então, vendem o vasto apartamento no rico bairro de Palermo para comprar um sítio barato e plantar flores em Córdoba. Mal comparando, seria como um intelectual paulistano que decide se mudar para colher soja em Cuiabá.

O conflito está lançado - a partir daí Lugares comuns trata da tentativa de reinvenção de um casal desiludido, no exato momento em que têm somente um ao outro. Sustentado nas interpretações espetaculares de Luppi e Mercedes, Aristarain tem então espaço para desenvolver um desafiador retrato intimista. Os seus diálogos primorosos não apenas fortalecem a ligação dos dois personagens, como iluminam a questão da bancarrota argentina. O professor Fernando é a personificação de uma geração politizada que agora acorda para a realidade. Até a quebradeira, Buenos Aires sempre foi um oásis artificial de europeização dentro de uma nação índia, mestiça, rural, provinciana.

Com o seu filme, Aristarain começa a dissipar essa ilusão - e colocar o cancioneiro popular no lugar do tango na trilha sonora é só o começo da sua comovente redenção.

Nota do Crítico
Ótimo
Lugares Comuns
Lugares Comunes
Lugares Comuns
Lugares Comunes

Ano: 2003

País: Espanha/Argentina

Classificação: 12 anos

Duração: 108 min

Direção: Adolfo Aristarain

Roteiro: Adolfo Aristarain

Elenco: Federico Luppi, Arturo Puig

Onde assistir:
Oferecido por

Omelete no Youtube

Confira os destaques desta última semana

Omelete no Youtube

Confira os destaques desta última semana

Ao continuar navegando, declaro que estou ciente e concordo com a nossa Política de Privacidade bem como manifesto o consentimento quanto ao fornecimento e tratamento dos dados e cookies para as finalidades ali constantes.