Julia Roberts e George Clooney em Ingresso Para o Paraíso (Reprodução)

Créditos da imagem: Julia Roberts e George Clooney em Ingresso Para o Paraíso (Reprodução)

Filmes

Crítica

Ingresso Para o Paraíso tem Julia Roberts e George Clooney. Precisa de mais?

Este é mesmo um filme do diretor de Mamma Mia! 2: nunca notável, mas impossível de desgostar

Omelete
4 min de leitura
02.08.2024, às 12H04.

Ol Parker faz filmes como um mestre confeiteiro faz bolos: o ponto não é o resultado final ser nutritivo, mas sim gostoso. É dessa filosofia de pouca substância, mas muita indulgência que nasceram títulos como Imagine Eu & Você, a franquia O Exótico Hotel Marigold (que Parker escreveu e deu para John Madden dirigir) e Mamma Mia! Lá Vamos Nós de Novo. E é dessa mesma filosofia que nasce Ingresso Para o Paraíso, comédia romântica estrelada por George Clooney e Julia Roberts.

A receita é até parecida com aquela que guiou a continuação do musical inspirado pelo catálogo do ABBA: coloque astros gigantes de Hollywood - quanto mais universalmente amados e veteranos, melhor, afinal o filão de Parker mira num público mais velho - e um elenco coadjuvante de jovens deslumbrantes em uma localidade paradisíaca, ocupe-os com uma trama de comédia romântica formulaica, dê a eles algumas cenas aleatórias em que podem simplesmente se divertir e registre tudo com uma câmera extasiada que simula o próprio olhar do público diante do velho brilho hollywoodiano.

Para um demonstrativo perfeito de como o estilo de Parker funciona, basta ver o momento em que David (Clooney) e Georgia (Roberts) jogam beer pong contra a filha (Kaitlyn Dever) e seu futuro marido, Gede (Maxime Bouttier). Nós vemos as bolinhas caindo dentro dos copos, claro, mas o foco da câmera de Parker é nas provocações e olhares entre os dois protagonistas. Uma das melhores risadas das 1h48 de Ingresso Para o Paraíso está nesta cena, induzida por uma brincadeira inofensiva de Clooney e Roberts, e duas vezes (duas!) o filme picota a ação do jogo para mostrar um take em câmera lenta da estrela de Uma Linda Mulher às gargalhadas, exibindo seu famosíssimo sorriso.

A trama, não que ela importe muito, vai mais ou menos assim: David e Georgia são ex-cônjuges que não se suportam, a ponto de “evitarem estar no mesmo fuso horário. Os dois se juntam, no entanto, quando a sua filha se apaixona por um rapaz durante uma viagem pós-formatura universitária para Bali e anuncia que vai se casar com o dito cujo e estabelecer residência na ilha. Sempre em discordância, David e Georgia não poderiam estar mais alinhados sobre a necessidade de sabotar o casório.

Parker assina o roteiro ao lado do estreante Daniel Pipski, e o texto encontra aquele equilíbrio doce entre cinema-cartão-postal descompromissado e uma relação central crível o bastante para que o espectador se veja investido no desfecho… por mais previsível que ele seja. O diretor, enquanto isso, emprega em Ingresso Para o Paraíso a lógica visual convencional e “chapada” que é típica da comédia romântica, elevando o longa do território coberto por um telefilme da Lifetime ou do Hallmark Channel apenas pelo valor de produção empregado no registro das locações grandiosas.

O restante do show, no fim das contas, é por conta de Clooney e Roberts. Sempre saudado por seu charme e seu estilo suave e relaxado de comédia, o ator mostra aqui uma habilidade insuspeita de operar as viradas mais sombrias da trama com autenticidade, mas sem deixar cair o tom alegre que domina o filme. Já Roberts retorna para as comédias românticas como quem nunca as deixou, ainda excepcionalmente afinada à mistura de senso de humor pastelão e pura sinceridade emocional que é necessária para que o gênero funcione.

Clooney e Roberts são brilhantes juntos, e ainda bem, porque Ingresso Para o Paraíso não é brilhante em mais nada. O roteiro levanta emoções primárias, ainda que eficientes em tocar aquela corda sempre retesada do nosso coração que diz respeito às relações familiares. A exploração desses dilemas, no entanto, é tímida, incompleta no sentido que o filme parece não querer se complicar demais e acabar perdendo a magia dos momentos em que Clooney e Roberts estão trocando farpas em ritmo perfeito, completando sentenças atrapalhadas um do outro, ou se olhando profundamente nos olhos e abrindo sorrisos deliciosamente cúmplices.

Eles funcionam, e Ingresso Para o Paraíso sabe muito bem disso. Como Cher e Andy Garcia, duetando “Fernando” no meio de Mamma Mia! 2, o resto do filme é só uma desculpa para que possamos assisti-los.

Nota do Crítico
Bom
Ingresso Para o Paraíso
Ticket to Paradise
Ingresso Para o Paraíso
Ticket to Paradise

Ano: 2022

País: EUA

Duração: 108 min

Direção: Ol Parker

Roteiro: Daniel Pipski, Ol Parker

Elenco: Julia Roberts, Billie Lourd, Kaitlyn Dever, George Clooney

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