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Ben Affleck era um ator de pequenas participações em alguns poucos filmes independentes até que, em 1997, ele e seu amigo de infância, Matt Damon, protagonizaram Gênio indomável (Good Will Hunting, de Gus Van Sant). O roteiro do filme fora escrito com o simples intuito de dar aos dois a possibilidade de atuar nos papéis principais, mas depois de ganhar o Oscar de Melhor Roteiro Original, a história dos dois mudou. Enquanto isso acontecia, o cineasta chinês John Woo dirigia A outra face (Face Off), com John Travolta e Nicholas Cage, que o confirmava como um dos realizadores de destaque em Hollywood.
Nestes últimos sete anos, Affleck e Woo tiveram bons momentos em suas carreiras, mas, curiosamente, acabaram trabalhando juntos justamente quando estavam em baixa. O ator ainda está abalado pela publicidade (negativa) que seu casa-separa-casa-separa com Jennifer Lopez lhe trouxe. Por conta disso, a crítica olhou com preconceito O Pagamento (Paycheck).
Baseado em um conto de Philip K. Dick (Blade Runner), a história se passa num futuro não muito distante. Affleck é Michael Jennings, um engenheiro especializado em pegar trabalho dos outros, desmontar suas peças e remanejá-los, tornando-os melhores. Contratado por job, ele tem as memórias deste período de trabalho apagadas ao fim de cada serviço, evitando assim o risco de passar informações confidenciais para empresas concorrentes.
Já com um certo prestígio neste mercado, ele recebe um convite de James Rethrick (Aaron Eckhart), dono de uma mega-corporação (claro!!), que lhe promete algumas dezenas de milhões de dólares por três anos de serviço dos quais ele não se lembrará de nada. Seguindo o dito popular de que o bolso é o órgão mais frágil do corpo humano, ele aceita. Ao fim do trabalho, tudo o que ele tem é um envelope cheio de tranqueiras. O que ele fez neste tempo todo? Por que ele recebeu este envelope? Quem o enviou? Num quebra-cabeças que mistura Amnésia (Memento, de Christopher Nolan - 2000) com Minority Report (de Steven Spielberg - 2002) e Vingador do futuro (Total recall, Paul Verhoeven - 1990), o filme se mostra mais interessante e bem amarrado do que a média dos filmes de ação e suspense que se vê por aí. Ponto positivo para o roteirista Dean Georgaris, que trabalhou em cima do texto curto escrito por K. Dick.
Há, obviamente, situações "bondianas" com cenas forçadas e a canalhice de sempre do astro do filme. Mas a presença da sempre exótica Uma Thurman e uma crescente necessidade de descobrir como Rethrick entrou naquela situação e o que vai fazer para sair dela fazem do filme uma boa opção de divertimento descompromissado. E é por isso que sempre vale a pena pagar para ver um filme de ação de John Woo: você sabe o que esperar. Com certeza estarão lá o ballet criado pelas câmeras, as belíssimas seqüências em slow motion, os personagens em primeiro plano contrastando com os que estão no fundo e a fatídica cena que os antagonistas apontam a arma um na cara do outro.
Enfim, por não trazer novas e inovadoras cenas de ação, O pagamento não é tão bom quanto o melhor filme dirigido por John Woo. Mas pelo seu enigmático roteiro é bem melhor que o pior filme estrelado por Ben Affleck... e você sabe de qual estamos falando, né? (ou não?) ;-)