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Os Reis de Dogtown | Crítica

<i>Os Reis de Dogtown</i>

20.10.2005, às 00H00.
Atualizada em 21.09.2014, ÀS 13H19

Os Reis de Dogtown
Lords of Dogtown
EUA, 2005
Drama - 105 min

Direção: Catherine Hardwicke
Roteiro:
Stacy Peralta

Elenco: Heath Ledger, John Robinson, Emile Hirsch, Rebecca De Mornay, William Mapother, Julio Oscar Mechoso, Victor Rasuk, Nikki Reed, Vincent Laresca, Brian Zarate, Pablo Schreiber, Elden Henson, Michael Angarano, Benjamin Nurick, Stephanie Limb, Mike Ogas, Cheyne Magnusson, Don Nguyen, Laura Ramsey, Sarah Cartwright, Johnny Knoxville

Quem já conhece o documentário Dogtown e Z-Boys (2001), sobre o surgimento da cena skatista na Califórnia nos anos 70, tem mais a ganhar ouvindo o CD da trilha de Os reis de Dogtown (Lords of Dogtown, 2005) do que propriamente assistindo à versão dramatizada da diretora Catherine Hardwicke. Em todo caso, a comparação serve - e bem - para mostrar o que diferencia o gênero documental do ficcional.

No filme que Stacy Peralta dirigiu há quatro anos, a idéia era reapresentar ao mundo os moleques desocupados que, por falta de ondas em Venice Beach, adaptaram o surfe ao asfalto e às piscinas vazias das mansões de Los Angeles. No lugar de quilhas, rodinhas. No fundo, porém, em 2001 Peralta corrigia injustiças históricas. Juntamente com Tony Alva, ele foi o skatista surgido da castigada região de Dogtown que mais se deu bem na carreira. Ficaram para trás talentos que não souberam se vender ou caíram nas drogas, sugados pela efemeridade do sucesso, como Jay Adams.

O que Catherine faz no seu segundo filme - a estréia foi no contundente Aos treze - é pegar essa história naturalmente dramática e intensificá-la. No documentário, aquelas vidas são como são, à espera somente de alguém que as registrasse. Na ficção, o drama é um fim em si mesmo.

Ninguém, portanto, mais indicado para interpretar Jay Adams do que Emile Hirsch, 20 anos de idade, o River Phoenix dos anos 2000. Em The dangerous lives of altar boys ele já fazia as vezes do rebelde autodestrutivo a caminho de virar mártir. Aqui, com mais liberdade, Hirsch abusa da caricatura e toma conta do filme. É Jay quem leva a vida mais ferrada, quem tem a mãe mais acabada (atuação marcante de Rebecca De Mornay) e quem poderia ter evoluído no esporte com mais intensidade.

O tratamento sentimental reservado ao lar de Jay se estende à rotina dos outros Zephyr Boys - como era chamada a equipe de skate nascida na loja de pranchas Zephyr. Alva (Victor Rasuk) se ressente do rigor excessivo do pai e de sua origem mexicana, diante de tantos loirinhos de cabelo liso. Peralta (o bom John Robinson, de Elefante) não gosta de ser visto como o certinho da turma, de ter as namoradas roubadas pelos outros, muito menos de assistir à perdição dos amigos.

Claro que o Peralta de hoje, como co-roteirista de Os reis de Dogtown, daria um jeito de inocentar sua versão adolescente em meio à rapida queda depois da ascensão midiática dos skatistas. É mais uma concessão dramática que diminui a complexidade dos personagens e ajuda a reforçar a isenção do documentário.

Um elemento, porém, não é central no documentário e merece atenção aqui: Skip, o dono da loja de surfe que vira o empresário dos garotos nos primeiros meses da moda skatista. Heath Ledger também o interpreta de um jeito caricato, mas é um tipo diferente do de Hirsch. Neste caso, a máscara mambembe vestida por Ledger serve para ocultar a humanidade do personagem - e essa humanidade se revela à medida que o filme avança.

Pensando bem, não é Jay o personagem crucial do filme, mas Skip. Foi ele, não qualquer outro de seus Z-Boys, que perdeu o bonde da História - e a diretora tem sensibilidade para perceber isso, o que já redime o filme de seus defeitos.

Ah, a tal trilha sonora que vale mais a pena: Neil Young, Ted Nugent, Allman Brothers Band, Pink Floyd, Peter Tosh, Stooges, Deep Purple, Jimi Hendrix, Black Sabbath, David Bowie, Devo, Alice Cooper, Funkadelic, Cream, Faces e T.Rex comparecem com canções individualmente manjadas, mas que unidas configuram um painel irresistível da década contracultural.

Nota do Crítico
Bom
Os Reis de Dogtown
Lords of Dogtown
Os Reis de Dogtown
Lords of Dogtown

Ano: 2005

País: EUA

Classificação: 14 anos

Duração: 107 min

Direção: Catherine Hardwicke

Elenco: Emile Hirsch, Heath Ledger, John Robinson

Onde assistir:
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