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A britânica Shona Auerbach fez seu primeiro curta-metragem entre 1995 e 1996. Desde então, realiza comerciais para seguir em atividade e fermentar uma carreira no cinema. Querido Frankie (Dear Frankie, 2004), sua estréia na direção de longas, levou seis anos para ser terminado. Nesse intervalo, Shona e o marido tiveram filhos. O tempo e a maternidade talvez expliquem o fato do melodrama ter autenticidade, ainda que não seja especialmente memorável. Na trama, o garoto Frankie (Jack McElhone) sofre de problemas auditivos. Mal fala, mas conseguimos escutar sua voz quando ele lê, em pensamento, as cartas que o pai marinheiro lhe manda regularmente. Frankie nunca o conheceu pessoalmente. Sabemos depois, porém, que é a mãe dele, Lizzie (a londrina Emily Mortimer, bom desempenho em papel difícil), quem as escreve em segredo. Ela alimenta a ilusão de que o pai exista não apenas para proteger a infância do filho, mas principalmente para ouvir a voz de Frankie colocada no papel. Esse amor incondicional que leva a decisões nem sempre racionais foi o motivo que prendeu Shona ao projeto. O problema é que a armação de Lizzie corre perigo. O barco que ela inventou nas cartas realmente existe - e está para ancorar em Glasgow, na Escócia, lugar onde mãe e filho vivem temporariamente. Frankie sente que finalmente verá o pai. Lizzie enfrenta um dilema: contar a verdade ou multiplicar a mentira? Ela decide contratar um estranho (Gerard Butler, de O fantasma da ópera) para encenar, por um dia, toda a saudade que pai e filho trocavam pelo correio. Lacunas sentimentais Àquela primeiro dilema da família destruída se adiciona, portanto, o clássico contrato de ocasião que pode se desdobrar ou não em afeto de verdade. São fórmulas consagradas. Melodrama é melodrama em qualquer lugar do mundo, mas o fato de ser a Escócia, e não qualquer endereço nos Estados Unidos o centro da ação, confere ao filme certa peculiaridade. O inglês falado em Glasglow, enrolado, quase incompreensível, serve para endurecer relações já mal construídas à base de fish n chips. O horizonte melancólico e a vastidão do porto aumentam a lacuna sentimental de Frankie. Esse retrato geográfico, cuidadoso, lembra vagamente o Mike Leigh de Segredos e mentiras (1996) e Agora ou nunca (2002). Lembra, principalmente, quando a diretora Shona sugere, na cena do pub forrado de caras mal intencionados, que o problema de Lizzie não é só seu, mas social, fruto da incomunicabilidade entre homens e mulheres. Não é essa secura sem concessões, infelizmente, que predomina no filme. Por mais que se esforce Shona cai em clichês sentimentalóides de principiante como o do garoto que vai mal no time de futebol mas solta lances inspirados quando o suposto pai surge ao lado do campo. Refletindo ao final, temos a idéia de que Querido Frankie é um filme correto. Poderia ser pior considerando-se os elementos altamente apelativos - deficiência física do filho, carência amorosa da mãe - que o compõem.
Ano: 2004
País: Reino Unido
Classificação: 10 anos
Duração: 105 min
Direção: Shona Auerbach
Roteiro: Andrea Gibb
Elenco: Emily Mortimer, Gerard Butler, Jack McElhone