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Conversa de banheiro com um senhor que, descobri mais tarde, é programador de uma rede de cinemas de bairro: "Você viu o filme?", "Vi", respondi irritado, já que não gosto de discutir filmes imediatamente após o término da sessão. "O que achou?", "Gostei", emendei simplista. "Nem a pau que programo esse! É inteligente demais", esbravejou o desconhecido.
Ele está certo. Sob o domínio do mal (The Manchurian candidate, 2004), refilmagem do clássico homônimo de 1962 dirigido por John Frankenheimer, é mesmo inteligente. Mais que isso, tem relevância no atual panorama político mundial.
Dirigido por Jonathan Demme, em seu melhor momento desde O silêncio dos inocentes, o suspense não tenta imitar o original e atualiza a conspiração - originalmente engedrada pelos comunistas, hoje "vilões" datados - para algo perfeitamente plausível na atualidade: uma megacorporação gananciosa.
Demme e os roteiristas Daniel Pyne e Dean Georgaris também atualizam o sentimento geral dos dois filmes. A paranóia anti-comunista dos anos 60 é substituída pelas incertezas eleitorais e a tensão decorrente pelo destino do mundo. A mesma que enfrentamos há pouco e que foi resolvida da pior maneira, com a vitória dos republicanos nos Estados Unidos. A guerra também é outra. Sai a Coréia e entra a Guerra do Golfo - deflagrada pelo Bush pai e vencida em 1991. Assim, a "Manchúria" do título original deixa de ser uma região da China e torna-se o nome da já citada corporação.
Na história, acompanhamos o Major Ben Marco (Denzel Washington, excelente, no papel que foi de Frank Sinatra). Assombrado por pesadelos recorrentes, o oficial passa seus dias exaltando publicamente as qualidades de Raymond Shaw (Liev Schreiber), um jovem congressista nova-iorquino que foi seu subalterno no Golfo. Shaw é candidato à vice-presidência dos Estados Unidos e dono de uma medalha de honra pelos feitos heróicos no oriente.
No entanto, depois de um perturbador encontro com outro membro de seu pelotão, o major começa a duvidar da própria sanidade e acredita que alguma coisa aconteceu durante o conflito. Algo que pode mudar o destino do mundo. Porém, sua busca pela verdade esbarra em interesses opostos e fica mais difícil a cada passo, já que conforme ele se aproxima da verdade, mais parece insano aos olhos do mundo.
Marco, claro, está certíssimo. O pacato Raymond Shaw é vítima de uma diabólica conspiração da qual faz parte sua própria mãe, a controladora Senadora Eleanor Shaw (Meryl Streep, perfeita no papel que rendeu um Oscar a Angela Lansbury). Mas como provar sua teoria paranóica, enfrentar um poder desses e conseguir manter sua integridade física e mental?
A resposta vem em reviravoltas e o diretor é extremamente feliz na condução do suspense, jamais perdendo a atenção do público e favorecido também pelas boas atuações de todo o elenco. Os críticos veteranos - que assistiram ao filme de 62 na época em que foi lançado - apontam que o longa só resulta menos surrealista que o original. Porém, isso pode ser perfeitamente explicado, afinal, os zumbis hipnotizados não são mais um elemento de ficção e hoje circulam livres pela Casa Branca. A diferença é que eles têm ciência de sua condição e parecem aproveitá-la ao máximo.
Sob o Domínio do Mal
The Manchurian Candidate
Autor: Jonathan Demme
Ano: 2004
Lançamento: 29.10.2004
Gênero: Drama
País: EUA
Classificação: 16 anos
Duração: 129 min
Elenco: Denzel Washington , Liev Schreiber , Meryl Streep
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