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Jim & Andy | Crítica

Documentário é um estudo sobre a força criativa que é Jim Carrey ao mesmo tempo que revela seu lado sombrio

01.12.2017, às 17H19.
Atualizada em 05.12.2017, ÀS 11H49

Jim Carrey é um dos grandes atores de sua geração e Jim & Andy: The Great Beyond é uma das provas disso. No final dos anos 90, quando estava no auge de sua carreira, ele abandonou qualquer tipo de ego e fez um teste para conseguir o papel de Andy Kaufman em O Mundo de Andy. Sua performance na frente das câmeras foi fantástica e, inclusive, merecia mais reconhecimento. Ao assistir ao documentário é possível entender melhor a grandeza de seu trabalho e os bastidores são o verdadeiro tributo à obra de Kaufman.

Uma das pessoas mais surreais de todos os tempos, Andy Kaufman não era apenas um comediante. Ele trabalhava com as emoções da sua plateia e para ele não interessava se seu público estava rindo ou xingando. O importante era extrair uma reação. Até os dias de hoje, suas performances estão à frente do nosso tempo e ele não acabava quando as câmeras desligavam. Ele continuava a “piada” para quem estivesse ao seu redor e, com isso, constantemente confundia as pessoas, que se perguntavam: estaria ele brincando ou falando sério?

Por conta disso, ao assistir os bastidores, vemos que esse é o filme que Kaufman teria feito. Carrey estudou muito a persona de Andy. Entrevistou familiares, amigos, viu vídeos e conseguiu compreender o quebra-cabeça que era o artista. Sendo assim, tomou a decisão ousada de nunca sair do personagem e, com isso, criou momentos que somente o verdadeiro Kaufman seria capaz de criar.

Existem dois momentos que comprovam isso. O primeiro é quando ele se veste pela primeira vez como Tony Clifton – um personagem criado por Kaufmann que era um cantor de Las Vegas arrogante, prepotente e que tinha como objetivo irritar todos ao seu redor. Totalmente no personagem, ele decide invadir o escritório de Steven Spielberg para falar pro diretor que ele nunca fez nada de bom desde Tubarão (ele não consegue encontra-lo, mas dá um show para todas as pessoas do local).

Em outro, decide irritar o lutador Jerry Lawler, que estava interpretando a si mesmo. Na vida real, Lawler e Kaufman eram amigos, mas na frente do público eram rivais ferrenhos. Carrey entendeu que seria melhor para o clima do filme se ele mantivesse a rivalidade o tempo todo e Lawler em diversos momentos perdeu a cabeça, chegando até a “lesionar” Carey – onde ele conseguiu reproduzir na vida real um dos momentos clássicos de Kaufman.

Em nenhum momento, Carey saia do personagem e, com isso, acabou criando um vórtex que levou todos os outros atores, a produção junto com ele. Não era mais possível saber onde o personagem começava e onde o Jim Carrey terminava. Ele realmente se jogou no personagem e isso afetou profundamente não somente o longa, mas toda a sua vida.

O ator explica que sofreu para relembrar quem era. Voltar aos seus problemas e deixar "o mundo de Andy" para trás foi um processo longo e complicado que causou um efeito borboleta culminando na pessoa que ele é hoje. 

Acima de tudo, o filme é um estudo sobre quem é o verdadeiro Jim Carrey. Ao ver as declarações recentes de que ele tem feito, muitas pessoas se assustaram e chegaram a dizer que o comediante havia ficado “louco”. Porém, ao ver o documentário, fica claro quais foram suas escolhas e a pessoa que ele é hoje está muito mais próxima de sua persona real.

A carreira toda, Carrey sempre se mostrou bem humorado. Seja em seus filmes, seja no tapete vermelho. Mas isso tudo fazia parte do “monstro” criado pelo humorista. Um monstro que fazia os outros sentirem-se bem e que, não necessariamente, mostrava quem ele era de verdade. Jim sempre pegou momentos sombrios de sua vida – como dramas familiares, profissionais e pessoais – e transformou em comédia. Ao mesmo tempo em que fala sobre as grandes tristezas do início de vida, o documentário imediatamente mostra um stand-up antigo onde ele brinca com isso e arranca risadas do público.

Especialmente após viver Andy, ele começou a quebrar essa máscara e o ser humano que mostra ao público hoje está muito mais próximo de quem ele verdadeiramente é. Atualmente, Jim Carrey tem uma visão mais pessimista do mundo e não tenta mais ser o que não é e muito é reflexo de sua carreira, pois diz “o que você faz quando realiza todos os seus sonhos e continua infeliz?”.

O documentário é um verdadeiro tributo a Andy Kaufman e, também, um estudo sobre quem é o verdadeiro Jim Carrey. Uma obra alucinada e, ao mesmo tempo, cheia de sentimento que o torna um dos grandes documentários do ano. 

Nota do Crítico
Excelente!
Jim & Andy: The Great Beyond
Jim & Andy: The Great Beyond
Jim & Andy: The Great Beyond
Jim & Andy: The Great Beyond

Ano: 2017

País: EUA, Canadá

Direção: Chris Smith

Elenco: Jim Carrey, Danny DeVito, Miloš Forman, Judd Hirsch

Onde assistir:
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