Doug Liman, conhecido por filmes de apelo arrasa-quarteirão como A Identidade Bourne, Jumper e Sr. e Sra. Smith, colocou a ação na prateleira temporariamente para realizar o filme mais sério de sua carreira: Jogo de Poder (Fair Game, 2011), thriller político na tradição de Todos os Homens do Presidente (All the President's Men, 1976), é baseado em fatos ocorridos durante a recente administração George W. Bush (2001-2009) dos EUA.
A trama narra um dos episódios mais conhecidos, vergonhosos e importantes da história recente daquele país, um que levou à segunda Guerra do Iraque - que durou sete anos e deixou centenas de milhares de mortos. Nela, como responsável pela divisão de contra proliferação de armas de destruição em massa da CIA, Valerie Plame (Naomi Watts) comanda uma investigação sobre a existência de armamentos nucleares no Iraque. Seu marido, o diplomata Joseph Wilson (Sean Penn), é incluído na investigação por sua experiência com a política no Níger, onde supostamente ocorreu uma venda do composto Yellowcake (uma mistura de urânio livre de impurezas para fins nucleares) ao Iraque. Em pouco tempo, tanto Valerie e sua equipe como Joe chegam a conclusões semelhantes: não existem armas de destruição em massa no Iraque.
No entanto, o poder público, ignorando as descobertas da CIA, afirma que tais armas existem e usa tal desculpa para iniciar a guerra. Furioso, Wilson escreve um editorial ao New York Times com sua versão dos fatos, o que inicia uma controversa disputa de poder que culmina com uma retaliação covarde: a revelação do cargo secreto de Valerie ao público.
O filme adapta dois livros: o da ex-agente (Jogo de Poder) e o do ex-diplomata (A Política da Verdade), que viram suas carreiras e famílias desmoronarem quando o governo e a mídia de extrema-direita manipularam fatos e dados para desacreditar violentamente suas descobertas, mantendo as razões para a Guerra do Iraque.
Com os dois lados bem cobertos, Jogo de Poder equilibra a tensão dentro e fora do campo político - ainda que Liman pareça mais à vontade com as sequências dentro dos escritórios ou durante as investigações, quando sua câmera inquieta busca personagens com velocidade digna de Jason Bourne. O que não significa que as cenas domésticas, devastadas pelos acontecimentos lá fora, sejam menos impactantes. Essas são energizadas pela qualidade dos atores, Watts e Penn, dois dos melhores em atividade por lá.
jogo de poder
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Graças a esse elenco e à qualidade do texto conciso de Jez Butterworth e John-Henry Butterworth, Liman conseguiu levar à tela esse tema difícil sem parecer muito ativista (há alguns discursos, mas não chegam a incomodar). Afinal, em diversos momentos entende-se até o outro lado - existem antagonistas, mas ninguém é demonizado (não estão todos interessados na segurança?) e mesmo o Wilson de Penn beira a arrogância em suas opiniões. O cineasta não parece preocupado em encontrar culpados (Scooter Libby parece um bode expiatório), apenas registrar a verdade de forma a que ela possa ser mais facilmente consumida (e lembrada) pelo público.
O problema é que Liman cria um registro que dificilmente atingirá a massa que deveria conhecer ou ao menos preocupar-se com tal caso, não alcançando ninguém que já não conhecesse de antemão - ao menos nos EUA - cada um dos detalhes citados. É um filme sob medida para engajados, que, por sua vez, estranharão a simplificação de outra das maiores discussões éticas dessa polêmica: a responsabilidade da mídia sobre o que houve. Já que não converterá ninguém, ao menos o registro poderia ser ainda mais abrangente.
Jogo de Poder | Omelete Entrevista Naomi Watts
Jogo de Poder | Cinemas e horários
Ano: 2010
País: EUA
Classificação: 12 anos
Duração: 104 min
Direção: Doug Liman
Elenco: Naomi Watts, Sean Penn, Ty Burrell, Brooke Smith, Bruce McGill, Anand Tiwari, Jessica Hecht, Norbert Leo Butz, Rebecca Rigg, Thomas McCarthy, Quinn Broggy, Nicholas Sadler, Ashley Gerasimovich, Michael Kelly, Noah Emmerich, David Denman