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Julieta | Crítica

Pedro Almodóvar troca ousadia por serenidade ao adaptar os contos de Alice Munro

07.07.2016, às 19H51.

De três contos de Alice Munro nasce a história de Julieta. Pedro Almodóvar, porém, evita transformar seu filme em uma antologia. O cineasta soma as três tramas, estreladas pela mesma personagem, em uma narrativa única, acompanhando o passo das diferentes fases da vida.

Um mistério cerca a personagem-título, que conforme revela a sua história assume variadas facetas: mãe, filha, amante, esposa, amarga, bem resolvida, profissional, relaxada, deprimida, realizada, superprotetora, liberal, jovem e madura. Julieta é todas as mulheres em uma aos olhos de Almodóvar, que traduz esse conceito pelas atuações firmes de Adriana Ugarte e Emma Suárez. Cada atriz tem a sua forma de incorporar a protagonista, mas o cineasta une as interpretações por uma transição lírica, aproximando o amargo da vida e suas marcas de expressão no rosto jovem.

Almodóvar sincroniza a narrativa de Munro com a sua linguagem cinematográfica para dizer sempre mais do que aparenta dizer. As composições de cena são belas e carregadas de significado, desde a abertura, quando o fundo vermelho desajeitadamente se transforma na roupa de Julieta, determinando a força e a fraqueza da protagonista antes que ela seja nomeada em cena. Da mesma forma a câmera segue o reflexo da janela do trem para mostrar a intimidade de um amor que nasce proibido e melancólico, a vista para o mar mostra possibilidades de vida e morte e a estátua que aparenta virilidade, é na verdade um símbolo de união feminina. Nada é gratuito no filme, que dentro da própria narrativa, pelas aulas de literatura clássica dadas pela jovem Julieta, discute metáfora e significado.

É uma construção, porém, que se torna cansativa com o tempo. Com apenas 1h39min, o filme parece muito mais longo. Não há respiro entre as três histórias, que são ao mesmo tempo interligadas e completamente distintas. Além disso, para quem é versado na filmografia de Almodóvar, fica a sensação da reciclagem de temas e imagens. Logo, a beleza de Julieta pode não ser gratuita gratuita, mas se esgota e não inova.

Vale como reflexão, mais um exemplo da intimidade do cineasta com o feminino e a maternidade. Serve também para acompanhar o seu amadurecimento, trocando a ousadia anterior por uma serenidade, desdenhada por alguns críticos. Como sua protagonista, as versões jovem e madura de Almodóvar diferem e convertem. Ele é o mesmo e não é. No seu esforço para contar a história de Julieta, talvez ele esteja a buscar por si mesmo.

Nota do Crítico
Bom
Julieta
Julieta
Julieta
Julieta

Ano: 2016

País: Espanha

Classificação: 14 anos

Duração: 98 min

Direção: Pedro Almodóvar

Roteiro: Alice Munro, Pedro Almodóvar

Elenco: Emma Suárez, Adriana Ugarte, Daniel Grao

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