Lobisomem (2025)

Créditos da imagem: Blumhouse/Universal

Filmes

Crítica

Competente, remake de Lobisomem da Blumhouse tropeça fugindo do próprio monstro

Preocupado com trauma e significados, filme do diretor de O Homem Invisível é melhor quando faz o terror puro

Omelete
4 min de leitura
15.01.2025, às 14H00.
Atualizada em 15.01.2025, ÀS 15H37

Entre os clássicos de monstros produzidos pela Universal Pictures nos anos 1930 e 1940 – uma lista que inclui Frankenstein, Drácula e outras figuras ainda presentes em Hollywood – o Lobisomem de George Waggner ocupa um espaço interessante. Há mais de 80 anos, ali estava um filme já muito preocupado com o psicológico por trás da criatura. Conforme o Larry Talbot de Lon Chaney Jr. ganha pelos e garras, há discussões sobre nosso potencial para o bem e para o mal, a busca por paz interior e os afins.

Descrevendo-o assim, Lobisomem (1941) pode parecer algo na linha do tal terror elevado que hoje povoa as produções da A24 e Blumhouse, responsável por produzir a nova versão da história com Leigh Whannell (já familiarizado com a missão depois de dirigir o bom O Homem Invisível de 2020). O filme de Waggner, contudo, imagina essas ideias com cenários góticos, fumacentos e instantaneamente memoráveis – fundamentos raros na nova atualização. Esta, sim, está quase unicamente interessada nos significados e metáforas.

É difícil culpar Whannell e a Blumhouse. O Homem Invisível, um dos únicos filmes de 2020 a escapar para os cinemas antes da pandemia fechar as salas, encarou os já conhecidos temas do terror moderno – trauma, superação e relacionamentos abusivos – com propulsão e criatividade, simultaneamente modernizando um conceito criado nos auges da velha Hollywood para comunicar a magia do cinema: você acreditará que o homem pode desaparecer. Lobisomem, em desenvolvimento há anos na produtora, vai na mesma linha, mas alcança metade do resultado.

Lobisomem (2025)
Blumhouse/Universal

Estrelado por Christopher Abbott, um nome confiável para papéis de homens incrementalmente desconfortáveis em sua própria pele, Lobisomem trata do perigo da ira masculina transmitida de geração em geração de maneira literal através da maldição do lobo. Nos princípios do esfriamento de seu casamento com Charlotte (Julia Garner) e sempre preocupado com a imagem que sua filha Ginger (Matilda Firth) tem dele, Burke (Abbott) retorna para sua casa de infância no Oregon após a morte do pai para empacotar as coisas do falecido e, de quebra, encarar os fantasmas no passado. Whannell merece crédito por não optar pela saída fácil de transformar o patriarca num monstro completo, mas é justo dizer que os anos de Burke nesta fazenda em meio às montanhas não foram os mais fáceis.

30 anos depois do dia em que cruzou com a morte naquelas matas, Burke é, enfim, arranhado pelo bicho. Fugindo da ameaça, a família se abriga na casa de infância de Burke enquanto ele se contorce e perde as faculdades. Whannell bebe do horror corporal para dramatizar sua descida à loucura animalesca, e está é o principal atrativo do longo segundo ato do filme. Lobisomem gasta longos minutos dentro de quatro paredes, e ali o roteiro de Whannell e Corbett Tuck apela constantemente para textos ou situações dolorosamente óbvias na busca de deixar claríssimo para o público suas Ideias, com I maiúsculo.

Se você não entender que Lobisomem é um filme sobre nosso medo de acabarmos como os vilões de nossa própria história, então frases como “às vezes nos preocupamos tanto em não traumatizar nossos filhos que viramos aquilo que os traumatiza” garantirão isso. As buscas por paralelos ao menos ganham um componente visual quando Burke deixa de ser capaz de se comunicar como humano e não entende mais a esposa, mas à exceção do ótimo trabalho de maquiagem, o diretor deixa seu filme cair tanto na análise de si mesmo que esquece de deixá-lo intrigante, assustador ou empolgante.

Todos esses adjetivos são dignos da sequência de abertura com o jovem Burke e seu pai (Sam Jaeger) caçando na floresta, quando as cenas externas fazem bom uso dos vastos vales do Oregon e oferecem a Lobisomem uma alternativa intrigante para os cemitérios e catedrais das encarnações anteriores do conto. Todos, contudo, são perdidos nas escuras paredes da casa, quando a claustrofobia asfixia a tensão pouco a pouco.

É até irônico que aquele lar, o suposto refúgio, seja tão prejudicial para o longa. O interesse de Whannell pode até estar nas representações, mas sua força como cineasta vem à tona mesmo em meio às perseguições, sustos e gritarias. Como na memorável morte por faca em O Homem Invisível, Whannell eventualmente encena bons encontros entre criatura e vítimas em potencial, localizando o homem-lobo como um stalker letal nas margens de uma tela novamente ocupada por árvores e campos pelos quais o filme caminha rumo a uma conclusão genuinamente triste. Conforme Burke se perde, Lobisomem aceita sua natureza, ou ao menos não consegue mais escapar dela.

Nota do Crítico
Bom
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Ano: 2025

País: EUA

Classificação: 16 anos

Duração: 1h43 min

Direção: Leigh Whannell

Elenco: Christopher Abbott, Julia Garner

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