Lobisomem na Noite não faz horror nem se entrega ao pastiche

Créditos da imagem: Disney/Divulgação

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Crítica

Lobisomem na Noite não faz horror nem se entrega ao pastiche

Especial de Halloween é o MCU em seu momento mais "parques da Disney"

Omelete
3 min de leitura
06.10.2022, às 13H00.
Atualizada em 07.10.2022, ÀS 13H39

A cena central de Lobisomem na Noite não seria outra senão o momento da transformação do personagem-título, mantido sob expectativa por mais da metade deste especial de 50 e poucos minutos. Quem espera um registro detalhado da reconfiguração do corpo, na linha Um Lobisomem Americano em Londres (1981), porém, pode se frustrar, porque Lobisomem na Noite escolhe manter a transformação no extracampo e focar em um longo close-up no rosto apavorado da principal personagem que testemunha a cena, Elsa Bloodstone (Laura Donnelly).

Criada nos quadrinhos em 2001, Elsa surge em cena como uma mistura de Jessica Jones e Van Helsing, uma das convidadas de honra de uma caçada a monstros que vai acontecer no jardim labiríntico da mansão de seu pai, o recém-falecido Ulysses Bloodstone. A divisão do especial em dois atos - primeiro os “jogos vorazes” que envolvem seis caçadores, depois a revelação do Lobisomem - vai adiando a aparição do licantropo, o que intensifica a expectativa pela sua revelação. 

A decisão de fazer a transformação fora do enquadramento é a síntese do espírito desse média-metragem que a Marvel preparou para o período do Halloween, que marca a nova empreitada do compositor Michael Giacchino como diretor. Apesar de um jorro de sangue ou outro, encenados com uma tímida inclinação ao pastiche, Lobisomem na Noite não é a estreia da Marvel num horror mais tradicional de sustos e sangueira. Isso já parecia óbvio de antemão, já que o especial se acomoda dentro da faixa etária do MCU e do público família que vai consumi-lo no Disney+.

O que Giacchino faz então, dentro dessa margem de manobra, é reunir elementos de sugestão. Além de enfocar muitos rostos apavorados ao longo das cenas de ação, ele se esmera nos temas musicais que evocam o cinema de horror da Universal e da Hammer. Ou seja, tudo ou quase tudo em Lobisomem na Noite é atmosfera e derivação. É um esforço de contenção que se justifica - pelo menos no discurso - como um exercício de cinefilia, um especial “para os amantes do horror”.

Essa proposta conseguiria parar de pé se Lobisomem na Noite oferecesse algo mais além da homenagem, e não é o caso. De todas as produções do MCU, essa é a que mais tem cara de passeio de parques da Disney, onde tudo é falseado e paralisado no tempo para prover um entretenimento seguro de nostalgia. Um indício já aparecia no momento em que os convidados entram na mansão Bloodstone e deparam com todos os bustos empalhados de monstros que enfeitam as paredes; é a carnificina como uma informação a posteriori, e cabe ao espectador cuidar sozinho de imaginar o resto. 

Para não dizer que Lobisomem na Noite não tem mais nada, evidentemente o clima de reminiscência se completaria com serviços ao fã salpicados ao longo da exposição. Então, além de contar a história de origem de Elsa (que já desponta como candidata a ser a mulher forte entre os homens que compõem o núcleo de horror da Marvel, como Blade e Motoqueiro Fantasma) o especial espalha easter eggs e potenciais ganchos narrativos na participação do Homem-Coisa, do próprio Lobisomem e na história do rubi da família Bloodstone. Outra especialidade da Marvel, portanto: organizar pretextos para histórias futuras que podem nem vir a acontecer.

É muito chato escrever sobre um filme e ficar recomendando outro, mas neste caso parece oportuno relembrar Um Lobisomem Americano em Londres, que pode ser encontrado com facilidade no Brasil em streamings concorrentes. Realizado numa época em que o cinema hollywoodiano transformava seu esgotamento temático e formal em um exercício criativo de cinefilia, o filme de John Landis permanece até hoje como um dos grandes exemplos de como o horror pode aproveitar as convenções do gênero e as memórias coletivas do prazer do cinema para se reinventar criticamente. Giacchino mira em Landis, propõe uma celebração do horror que flerta com a ironia e a graça, mas Lobisomem na Noite se sai uma pálida versão, em exibição num museu de cera.

Nota do Crítico
Regular
Lobisomem na Noite
Werewolf by Night
Lobisomem na Noite
Werewolf by Night

Ano: 2022

País: EUA

Classificação: 14 anos

Duração: 53 min

Direção: Michael Giacchino

Roteiro: Heather Quinn, Peter Cameron

Elenco: Gael García Bernal, Laura Donnelly

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