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Em entrevista publicada no site oficial do filme Medo e obsessão (Land of the plenty, 2003), o cineasta Wim Wenders chama de três Ps as coisas que mais o preocupam atualmente nos Estados Unidos: Pobreza, Paranóia e Patriotismo. Com esta teoria em mente, ele construiu o melhor filme sobre o 11 de setembro até agora.
A história se passa às vésperas do segundo aniversário da queda do World Trade Center e, segundo o sargento Paul (John Diehl), o país ainda vive em estado de alerta amarelo. O militar, veterano do Vietnã, passa o dia dentro de uma van caindo aos pedaços, mas carregada de equipamentos que vão de câmeras e monitores a computadores e rádios. Sua missão é observar tudo o que está acontecendo ao seu redor e certificar que não há por ali riscos de novos atentados como os de Nova York. Seu parceiro na empreitada é Jimmy (Richard Edson), que fica na retaguarda checando todos os dados que o chefe consegue no campo.
Enquanto Paul observa um suspeitíssimo homem de turbante, Lana Swenson (Michelle Williams) desembarca no aeroporto de Los Angeles. Assim como seus pais, ela é missionária. Depois de passar diversos anos em países na África e Oriente Médio, ela está voltando para morar um tempo nos Estados Unidos. Na bagagem, suas roupas, um notebook, um iPod e uma carta de sua mãe endereçada ao irmão dela, Paul. Em seu caminho para a Missão Pão da Vida, onde vai morar e trabalhar, a jovem vê uma Los Angeles bem diferente das lojas caras da Rodeo Drive, dos casarões de Beverly Hills e das premières de Hollywood.
Um pouco deste submundo angelino já foi mostrado pelo próprio Wenders em Hotel de um milhão de dólares (Million Dollar Hotel, 2000) - e quem viu o filme vai reconhecer o prédio, que aparece como parte do cenário de algumas cenas. Mas os tais três Ps mudaram não só a cidade californiana, mas todo o país. Paul, que pela sua experiência em uma guerra já teria motivos de sobra para ser paranóico, está mais atento do que nunca na caça aos terroristas que querem destruir o sonho americano. Ao ficar sabendo que sua sobrinha está na cidade e quer encontrá-lo, ele vê isto como um atraso para suas investigações. Os caminhos dos dois só vão se cruzar quando um sem-teto é assassinado na frente do abrigo onde ela trabalha e isso pode ter alguma ligação com algo muito maior.
Há então uma mudança de cenário e estilo quando tio e sobrinha pegam a estrada para continuar a busca pela verdade. No clima de road-movie, vêm enfim os descobrimentos a respeito dos protagonistas e aumenta a carga dramática, principalmente quando são tocadas as músicas de Thom e Leonard Cohen.
Diehl está ótimo e Williams está mais uma vez provando que existe vida profissional depois da série Dawsons Creek. A ex-moradora de Capeside, que participou do também ótimo O agente da estação (2003), vem tentando construir uma carreira no cinema independente, algo que Katie Holmes já vem conseguindo desde Go! - Vamos nessa! (1999) e que o Dawson em pessoa também provou em Regras da Atração (2002).
Apesar de ter usado apenas câmeras digitais, o resultado nem de longe é artificial. Não há a granulação tão comum a esta nova tecnologia, graças ao excelente trabalho do diretor de fotografia Franz Lustig. Ele consegue ajudar o diretor a mostrar que toda a poeira criada pelas quedas das Torres Gêmeas é muito mais colorida que o preto e o branco. Nada mais é tão certo. Ninguém mais é tão certo. E são estas diferentes tonalidades que fazem de Medo e obsessão um filme tão interessante.
Ano: 2003
País: EUA
Classificação: 14 anos
Duração: 90 min
Direção: Wim Wenders
Elenco: John Diehl, Michelle Williams